Poeta, resenhista, publicitária e jornalista Márcia Bastian Falkenbach, conhecida no circuito literário como MAYA FALKS, ganhadora de mais de 20 prêmios literários, nasceu em 29 de julho de 1982, em Caxias do Sul. Sua poesia está reunida em Poemas para ler no front (2019) e em Versos e outras insanidades (2017). Recentemente, publicou o romance Santuário (2020), formado por histórias curtas, que se soma a Histórias de minha morte (2017) – que, de acordo com o poeta Jarid Arraes, é “ indispensável para quem deseja mergulhar em questões profundas como a saúde mental da população negra, sobretudo das mulheres negras” – e Depois de tudo (2015), o livro de estreia.
Sem data de lançamento, a autora prepara um livro-reportagem sobre o poeta Gonçalves Dias, resultado da conclusão do curso de jornalismo. Enquanto isso, se dedica ao blog Bibliofilia Cotidiana, onde resenha a literatura contemporânea (desde junho de 2019), e mantém o Escritório Literário, a partir do qual oferece serviços, como leituras críticas, oficinas de escrita criativa e mentoria literária.

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SUSPIRO

O silêncio marcava o compasso da dor
Nos passos errantes, no traço inconstante, o olhar de terror
Fumaça de pólvora nova no cano da arma
Dois passos, joelho na terra, venceu o seu carma
Os olhos vidrados no céu, pedindo perdão
Num campo cercado de corpo, encontrou em si mesmo a pior solidão
Guerreiro, sem triunfo ou medalha, caído no chão
Preso, em meio à batalha, não foi campeão.
Na garganta, a secura da alma prendeu seu último suspiro.

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TRAPOS

Das vestes surradas, se escapam os olhares de súplica
A dor estampada nos olhos enquanto o frio engole a alma
Perdido, num canto cercado de nada por todos os lados
Seus olhos encontram repúdio nos rostos que permanecem calados
Nada, um nada de nada que sobra nas pedras da cidade concretada
Um corpo inerte na rua que vagueia invisível feito alma penada
Arrasta nos pés da miséria, sua alma paupérrima transita dilacerada
Na lata suja do tempo vai contando os trocados pra fila do pão
O cabelo mal aparado, todo desgrenhado, passou a noite no chão
O corpo de restos de restos, de lixo do lixo, não encontra perdão
Dormiu sob a marquise da loja e o vento forte levou seu papelão
A noite que chega manchada das luzes nas ruas e na alma a escuridão
Acorda em meio à fumaça, seu corpo em chamas procura a redenção
Enfim, o resto do resto foi visto perdido no frio da calçada
Queimando, sob risos estranhos, bate no corpo, esforço em vão
Desaba, já sem dor e sem vida, naquele segundo findou sua estrada
O riso que antes se ouvia agora se convertia em mero descaso
Azar de tal vagabundo, perdido e imundo, vestido de trapos
Agora o homem queimado, sem futuro ou passado, ou história possível
Voltava ao seu posto de resto, de nada com nada, um homem invisível

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