O poeta BASÍLIO
DA GAMA (José Basílio da Gama) nasceu em São José do Rio das Mortes, hoje
Tiradentes (MG), em 22 de julho de 1741 (há registros de que tenha sido em 1740).
Sua obra mais conhecida é O Uraguai
(1769), considerada a melhor obra épica do arcadismo brasileiro, em que retrata
a luta entre índios e jesuítas contra portugueses e espanhóis – nela há
referências ao domínio universal da Companhia de Jesus e a seus crimes.
Basílio da Gama estudou no Rio de Janeiro, em
Portugal e na Itália, com a intenção de uma carreira religiosa, mas, enquanto
esteve na Itália ingressou na Arcádia Romana, sob o pseudônimo de Termindo
Sipílio, e, lá, desenvolveu sua carreira literária.
De volta ao Rio de Janeiro, em 1767, foi
preso por ser “amigo dos jesuítas” – que perderam sua importância no contexto
social, político e econômico e, por isso, quem mantivesse contato com eles
deveria ficar exilado em Angola durante oito anos.
Já em Lisboa, para ser encaminhado à prisão,
homenageou a filha do Conde de Oeiras (Epitalâmio
às núpcias da Sra. D. Maria Amália, 1769), futuro Marquês do Pombal, e, com
isso, ficou em liberdade.
Patrono da cadeira nº 4 da Academia
Brasileira de Letras (ABL), Basílio da Gama morreu em Lisboa, Portugal, em 31
de julho de 1795.
* * *
Entram enfim na mais remota, e interna
Parte
de antigo bosque, escuro e negro,
Onde,
ao pé duma lapa cavernosa,
Cobre
uma rouca fonte, que murmura,
Curva
latada e jasmins e rosas.
Este
lugar delicioso e triste,
Cansada
de viver, tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.
Lá reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão e a mão no tronco
Dum fúnebre cipreste, que espalhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim sobressaltados
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la e temem
Que desperte assustada e irrite o monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia e fere
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açoita o campo com a ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que o Amor reinava, um dia,
Cheios de morte; e muda aquela língua
Que ao surdo vento e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.
Nos olhos de Caitutu não sofre o pranto
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime, e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei quê de magoado, e triste,
Que os corações mais duros enternece.
Tanto era bela no seu rosto a morte!
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