CASSIANO RICARDO (Cassiano Ricardo Leite), poeta, jornalista e ensaísta, nasceu em São José dos Campos (SP), em 26 de julho de 1895. Elogiado por Olavo Bilac e Medeiros e Albuquerque pelos seus tradicionais primeiros versos, aderiu ao modernismo, alinhando-se com Menotti del Picchia e Cândido Motta Filho. O primeiro livro, Dentro da Noite, é de 1915, ainda neo-simbolista, é com Martim-Cererê, de 1928, que apresenta uma opção possível de poesia modernista.
Mais adiante, com O sangue das horas (1943), Um dia depois do outro (1947) e A face perdida (1950), incorpora um Brasil mais urbano, menos primevo e naturalista, temática que será ampliada em O arranha-céu de vidro (1956) e em Jeremias-sem-chorar (1964), com o qual se aproximou das experiências da vanguarda literária.
Ocupante da cadeira nº 31 da Academia Brasileira de Letras (ABL), foi presidente do Clube da Poesia, em São Paulo, na década de 1950, quando deu início a um curso de poética e à publicação da coleção “Novíssimos”. Integrou, também, do Conselho Federal de Cultura e a Academia Paulista de Letras.
Como jornalista, trabalhou no Correio Paulistano (1923 a 1930), foi diretor de A Manhã (1940 a 1944) e O Anhanguera (1937, em contraponto ao Integralismo, de Plínio Salgado), fundou a revista modernista Novíssima (1924) e participou das revistas Planalto (1930) e Invenção (1962).
Faleceu no Rio de Janeiro (RJ), em 14 de janeiro de 1974.

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A RUA

Bem sei que muitas vezes,
o único remédio
é adiar tudo. É adiar a sede, a fome, a viagem,
a dívida, o divertimento,
o pedido de emprego, ou a própria alegria.
A esperança é também uma forma
de contínuo adiamento.
Sei que é preciso prestigiar a esperança,
numa sala de espera.
Mas sei também que espera significa luta e não, apenas,
esperança sentada.
Não abdicação diante da vida.

A esperança
nunca é a forma burguesa, sentada e tranqüila da espera.
Nunca é a figura de mulher
do quadro antigo.
Sentada, dando milho aos pombos.


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SERENATA SINTÉTICA

Rua
torta.

Lua
morta.

Tua
porta.

  
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POEMA IMPLÍCITO

O que a vida nos faz
supor esteja atrás dos objetos.
A presença do oculto,
o que a fotografia não nos diz.
As coisas
que não chegou a me dizer Lenora
a que foi
morar no reino dos pássaros mudos.
E que mais me feriram justamente
porque não chegaram a ser ditas.
Os gritos, esculpidos na boca
das figuras de pedra.
Tudo o que é implícito.
Tudo o que é tácito.

Não gosto dos explícitos
Gosto dos tácitos.
Daqueles que me dizem tudo
sem me dizer uma única palavra.
Não amo os lógicos,
os socráticos.
Amo os lunáticos,
os de cabeça virgem
e lírica.

Não amo os pássaros que cantam,
amo os pássaros mudos.

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