O paulista JOSÉ PAULO PAES destaca-se no cenário nacional, pela elaboração de sua poesia, a partir da segunda metade do século XX. Nascido em 22 de julho de 1926, em Taquaritinga (SP), mudou-se para Curitiba (PR) em 1944 com o propósito de estudar no Instituto de Química – onde fez o curso em quatro anos e diplomou-se como químico. O primeiro livro, O Aluno, é publicado em 1947, por iniciativa do autor e com projeto gráfico do pintor Carlos Scliar (1920-2001).

Em 1952, veio a plaquete Cúmplices, com 50 exemplares e dois desenhos originais, em cores, de Nenê, ou melhor, Oswald de Andrade Filho. Foi naquele ano que ingressou na seção paulista da Associação Brasileira de Escritores, onde exerceu a função de secretário e ministrou cursos de literatura. Em 1958, apresentaria-se com Epigramas, onde já se revelava “um poeta de voz própria”, sem tanta influência de Drummond e Murilo Mendes (1901-1975).

Depois da “geração de 45”, com o livro Novas Cartas Chilenas, de 1954, em alusão ao poeta Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), José Paulo Paes define “uma das componentes centrais do clima literário nos anos 60”: as tensões sociais e o engajamento político; e, com Anatomias (1967), dialoga com a experimentação concretista, ao lado de Pedro Xisto (1901-1987) e Wladimir Dias Pino (1927-2018).

Seguiram Meia Palavra (1973), Resíduo (1980) e Calendário Perplexo (1983) que abre a retrospectiva Um por todos (1986). Em 1985, pela coleção Claro Enigma, organizada por Augusto Massi, José Paulo Paes publica A poesia está morta, mas juro que não fui eu, em que dá “adeus à poesia mais visual” e parte “para uma poesia de fôlego mais largo”, como disse em entrevista. A ironia está presente, também, em Prosas seguidas de odes mínimas (1992), que carrega nos tons memorialistas e é bastante diferente dos livros anteriores, influenciado por um assunto bastante pessoal: o poeta sofreu uma necrose no pé esquerdo, que o obrigou a amputar a perna. Vieram, ainda, A meu esmo (1995), De ontem para hoje (1996), Um passarinho me contou (1997), Melhores Poemas (1998), Uma letra puxa a outra (1998), Ri melhor quem ri primeiro (1999) e Um lugar do outro (1999).

O poeta escreveu para a revista Joaquim, fundada e dirigida pelo escritor Dalton Trevisan (1925) – a revista, que circulou entre 1946 e 1948, caracterizava-se pelas discussões sobre a democracia e o socialismo em âmbito nacional, e pela projeção das artes em âmbito regional. Na década de 1960 passou a trabalhar na Editora Cultrix, onde permaneceu até 1982.

Traduziu Charles Dickens, Joseph Conrad, Laurence Sterne, W.H. Auden, William Carlos Williams, Paul Éluard, Friedrich Hölderlin, Rainer Maria Rilke, Ovídio, Aretino e Níkos Kazantzákis, entre outros. José Paulo Paes foi autodidata no aprendizado das línguas inglesa, francesa, italiana, alemã, espanhola, dinamarquesa e grega e dedicou-se à tradução de autores da língua fantástica, da poesia erótica e do modernismo grego.

José Paulo Paes faleceu em 9 de outubro de 1998, vitimado por um edema pulmonar agudo.

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AO SHOPPING CENTER

 

Pelos teus círculos

vagamos sem rumo

nós almas penadas

do mundo do consumo.

 

De elevador ao céu

pela escada ao inferno:

os extremos se tocam

no castigo eterno.

 

Cada loja é um novo

prego em nossa cruz.

Por mais que compremos

estamos sempre nus

 

nós que por teus círculos

vagamos sem perdão

à espera (até quando?)

da grande liquidação.

 

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DRUMMONDIANA

 

Quando as amantes e o amigo

te transformarem num trapo,

faça um poema,

faça um poema, Joaquim!

 

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CRONOLOGIA

 

A.C.

D.C.

W.C.

 

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BRECHT REVISITADO

 

partido: o que partiu

rumo ao futuro

mas no caminho esqueceu

a razão da partida

 

(só perdemos

a viagem camaradas

não a estrada

nem a vida)

 


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