ÍTALO
JOÃO BALEN nasceu em 28 de julho de 1917, em Caxias do Sul, e, além
das funções administrativas, sociais e políticas que exerceu na cidade, foi poeta,
jornalista e tradutor. O livro Os pesos e
as medidas, de 1980, é a “data-limite” da literatura vêneto
sul-rio-grandense a partir da cidade, de acordo com o historiador Mário
Gardelin (1928-2019), para quem, “Os
Pesos e as Medidas é o poema de Caxias do Sul”.
Com Os pesos
e as medidas, Balen, membro efetivo da Academia Caxiense de Letras (ACL),
patrono da cadeira nº 34, de acordo com a ata fundadora de 1989, foi premiado
no Concurso Apesul em 1978. A partir do reconhecimento do poema, a Câmara
Municipal de Caxias do Sul instituiu o dia 28 de julho como o Dia da Poesia
Vêneto-Rio-Grandense (em 30 de março de 1982).
Como jornalista, fundou o jornal A Época, “Jornal da mocidade em prol das aspirações coletivas”, que teve sua primeira edição em 2 de outubro de 1938 (Balen, na época, era secretário-geral do município, convidado pelo prefeito Dante Marcucci). Até 17 de agosto de 1958, quando o jornal deixou de circular, ocupou o cargo de diretor e assinou uma coluna como João Piracicaba.
Como jornalista, fundou o jornal A Época, “Jornal da mocidade em prol das aspirações coletivas”, que teve sua primeira edição em 2 de outubro de 1938 (Balen, na época, era secretário-geral do município, convidado pelo prefeito Dante Marcucci). Até 17 de agosto de 1958, quando o jornal deixou de circular, ocupou o cargo de diretor e assinou uma coluna como João Piracicaba.
Por trás do heterônimo, o poliglota Balen (português,
italiano e espanhol) traduziu o poeta veronense Emílio Salgari (1862-1911),
autor de As maravilhas do ano 2000,
que assinava a coluna “Páginas Soltas” em 1939. Por sua vez, as crônicas de
Piracicaba retratavam o cotidiano da Caxias depois do entreguerras, onde podia
se ler, por exemplo, sobre a criação da Escola de Artes e Ofícios, em 1939, uma
iniciativa do empresário Júlio João Eberle (1908-1987) e do advogado e poeta
Olmiro de Azevedo (1895-1974), mas também historietas de amor.
Como tabelião, compilou material de estudo
referente à área, na falta de literatura apropriada.
Astrônomo amador, Ítalo Balen faleceu em 13
de fevereiro de 1981, em Torres. Para a cidade litorânea, dedicou o soneto
“Netuno na praia da Cal”, em duas partes, publicado originalmente no jornal Correio do Povo de 31 de dezembro de
1970, e recuperado no livro Poetas do
Passado (1999). Nele, o poeta engaja-se no movimento para impedir a
destruição do Morro das Furnas (Torre do Meio), na Praia da Cal. O artigo
“Campos dos Bugres” pode ser encontrado no álbum Caxias do Sul, a metrópole do vinho, livro do jornalista Duminiense
Paranhos (1958).
Na foto, feita por Giacomo Geremia em 1938, e cedida pelo Arquivo Histórico João Spadari Adami, vemos João Brusa Netto, Ítalo Balen e Serafim Alessandrini (da esquerda para a direita).
Na foto, feita por Giacomo Geremia em 1938, e cedida pelo Arquivo Histórico João Spadari Adami, vemos João Brusa Netto, Ítalo Balen e Serafim Alessandrini (da esquerda para a direita).
* * *
AS CARRETAS
Anos
vinte, Caxias pequenina,
de
invernos longos, frígidas tormentas,
ruas
geadas, noites nevoentas
de
amarelada luz em cada esquina.
Lembro.
Vinham do leste, à noite, lentas,
As carretas...
Rangidos na neblina,
Sons
de cincerro, cheiro de resina
Das toras
de pinheiros pardacentas...
Eram
gênios nas cordas subjugados,
deuses
verdes no esquife mutilados
– tudo
quanto restava do pinhal.
As
carretas, uma a uma, iam em frente.
Depois,
rezava o vento e vagamente
Chorava
um cão num fundo de quintal.
* * *
NETUNO NA PRAIA DA CAL
I
No
carro em concha e de ondas diademado,
com
o tridente fustigando os ares,
à Ilha
dos Lobos chega, alvoroçado,
Poseidon
ou Netuno, o deus dos mares.
Fita
a Praia da Cal e atroa, irado:
“Quem
ousará tocá-la? Que vulgares
almas
sem brilho, ali, têm planejado
afear
o jardim dos meus cantares?...
“Lembro
essa praia com saudoso encanto.
Eu e
Anfitrite... amor tão alto e puro...
Tritão,
meu fiho, aí brincava tanto!
“Aleijões
– Zeus! – só aceito os de batalha!
E a
ti, Hades, rei do inferno, eu asseguro:
Logo
terá mais gente na fornalha!...”
II
E mais
falou Netuno em tal sentido,
enquanto
as belas ninfas que o cercavam,
mudando
o olhar de turvo a embevecido,
Ora o
deus, ora a praia contemplavam.
Proteu,
pastor marinho assaz temido
e cujos
dons o Oceano transformavam,
criou
na costa um forte “mar perdido”,
punindo
os que Poseidon provocavam.
E a
humana sensatez surgiu de novo
movida
por sonoras alavancas...
Sorriu
Netuno: “Poncho! Honra de um Povo!”
Então,
cantando, pôs-e a espicaçar
Do coche
os dois corcéis de crinas brancas...
E,
triunfalmente, foi-se pelo mar!
Comentários
Postar um comentário