O poeta HUMBERTO GABBI ZANATTA nasceu no dia 25 de julho de 1948, em Taquaruçu do Sul (RS), município de colonização italiana, próximo a Frederico Westphalen. Cedo, a família mudou-se para Santa Maria, onde anos mais tarde desenvolveu suas atividades profissionais, como escritor, professor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), sociólogo e advogado.
Patrono da Feira do Livro de Santa Maria em 2003 (setor infantil) e homenageado postumamente em 2019, publicou mais de vinte livros, sendo dez voltados para o público infantil, entre eles, Poemórias – Santa Maria em versos e traços (2009) e Imembuy em Versos (2009), respectivamente. Seus poemas constam em diversas coletâneas e antologias, como na Coletânea de poesia gaúcha contemporânea (2013), organizada por Dilan Camargo.
Compôs mais de cem músicas, algumas premiadas em festivais gaúchos e paranaenses, como “América Latina” (em parceria com Francisco Alves e conhecida na voz de Dante Ramon Ledesma), “Tropa de Osso”, “Não podemo s’entregar pros home” e “Lições da Terra”.
Com mestrado em Patrimônio Cultural pela UFSM, foi sócio-fundador Academia Santa-Mariense de Letras, da Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria, da Associação Gaúcha de Escritores (AGES), e integrante da Estância da Poesia Crioula. Foi, ainda, secretário de Cultura de Santa Maria.
Zanatta faleceu no dia 28 de dezembro de 2018, em decorrência de uma parada cardiorespiratória.

* * *



AMÉRICA LATINA

Talvez um dia, não mais existam aramados
E nem cancelas, nos limites da fronteira
Talvez um dia milhões de vozes se erguerão
Numa só voz, desde o mar as cordilheiras
A mão do índio, explorado, aniquilado
Do Camponês, mãos calejadas, e sem terra
Do peão rude que humilde anda changueando
É dos jovens, que sem saber morrem nas guerras

América Latina, Latina América
Amada América, de sangue e suor

Talvez um dia o gemido das masmorras
E o suor dos operários e mineiros
Vão se unir à voz dos fracos e oprimidos
E as cicatrizes de tantos guerrilheiros
Talvez um dia o silêncio dos covardes
Nos desperte da inconsciência deste sono
E o grito do sepé na voz do povo
Vai nos lembrar, que esta terra ainda tem dono

E as sesmarias, de campos e riquezas
Que se concentram nas mão de pouca gente
Serão lavradas pelo arado da justiça
De norte a sul, no Latino Continente

* * *

LIA

Na clara tarde
De primavera
Lia espera
Sem muito alarde.

Lia espera
Mesmo sabendo
Que escrevendo
Não se supera.

Lia espera
Quando queria
Mas não sabia
Ler destempera.

Ler destempera
Exige mais
Que ler espera
Dormência ou Paz.

Lia esperou
Anos a fio
E não cansou
Dos desafios.

Lia que lia...
Se bela ou fera
Pouco sabia
D’outra quimera.

Camões relia
Então sabia
Da longa espera
Da outra Lia.

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