O poeta DJALMA PASSOS é um dos fundadores do Clube da Madrugada, no tempo em que fazia parte da Polícia Militar acreana. Nascido no dia 19 de julho de 1923, em Rio Branco, capital do Acre, publicou Poemas do tempo perdido (1948), As vozes amargas (1952), Tempo e distância (1955), Bazar de angústias (1973), Ocupação da Amazônia e outros problemas (1974) e Notas de literatura contemporânea (crítica, teoria e história literárias,1977).

Deixou a polícia militar em 1965, no posto de tenente-coronel. Foi professor, advogado e político (foi deputado federal, presidente de partido, assessor jurídico e secretário-geral da Justiça do estado). Também foi jornalista e editor do Jornal do Comércio, do Amazonas, e dedicou-se ao estudo da vida e da obra de diplomata, escritor e jornalista Joaquim Nabuco (1849-1910), um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras (ABL).

Djalma Passos faleceu em 18 de junho de 1989, no Rio de Janeiro.

* * *

 

MADRUGADA SANGRENTA

 

Em vão eu te busquei ó madrugada

Quando a minha alma quase morta necessitou de auroras

E o meu corpo de um refúgio inviolável...

Não pude contemplar a tua paz

Nem deixar que minhas mãos mergulhassem em teus lírios...

No desembarque impossível,

Eu vi apenas o teu clarão sangrento

E os teus pássaros entoando uma canção de guerra...

 

* * *

 

PROCEDÊNCIA

 

Venho do mundo dos desiludidos,

De onde a vida se tornou amarga e inconcebível,

De onde a tristeza estendeu suas asas negras

Como um pássaro agoureiro e cruel

Sobre os homens e as cousas...

Venho de um submundo abandonado

Onde não há Deus nem manhãs de sol,

Nem noites de luar nem dias sem crepúsculos,

Onde tudo vaga sem destino,

Sem finalidade e sem conforto...

Trago na garganta o gemido dos aflitos,

No peito a tortura dos injustiçados

E no olhar a mensagem dos eternamente perdidos...

É por isso que a minha alma tem essa vontade estranha

De pairar acima do infinito

E de viver no fundo dos abismos...


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