EDIMILSON DE ALMEIDA PEREIRA nasceu em 18 de julho de 1963, em Juiz de Fora (MG). O primeiro livro, Dormundo, foi publicado em 1985. Consta, ainda, entre suas publicações, as obras Kalunbungu (1987), Árvore dos Arturos & outros poemas (1988), Corpo imprevisto & margem dos nomes (1989), as coletâneas Ô Lapassi & outros ritmos de ouvido (1990) e Corpo vivido (1991), O homem da orelha furada (1995), Homeless (2010) e qvasi: segundo caderno (2017).

Escritor premiado, venceu o Concurso Nacional de Literatura da Academia Mineira de Letras, em 2004, o Concurso Nacional de Poesia Helena Kolody (Paraná, 1998), e, em 1988, o Concurso Nacional de Literatura Editora UFMG, em Belo Horizonte, entre outros.

Seu trabalho como pesquisador da cultura e da religiosidade afro-brasileira resultou em publicações – como Exunouveau:análise de uma epistemologia de base afrodiaspórica (2017) – e também prêmios. Entre eles, se destacam o prêmio Marc Ferrez (FUNARTE/RJ), o prêmio Dr Antônio Procópio de Andrade Teixeira (UF de Juiz de Fora, MG) e o prêmio João Ribeiro (ACL), ao lado da professora Núbia Pereira de Magalhães Gomes (UFJF), com quem divide a autoria de pesquisas na área.

Edimilson é doutor em Comunicação e Cultura e pós-doutor em literatura comparada (Universidade de Zurique, Suíça). Além dos livros de poesia e dos ensaios acadêmicos, escreve para o público infantojuvenil, organiza antologias, faz traduções e é traduzido para vários idiomas. Seu trabalho está reunido em Poesia + (2019), com produções entre os anos de 1985 e 2019. 

* * *


RONDÓ

 

Quem é morto

toda manhã,

em definitivo,

não morre: é tanta

 

razia no corpo,

— lâmina

verbo —

e não morre, irmã,

 

nem o futuro e o

sonho.

Quem é morto

toda manhã

 

faz de si um casulo.

A vida é tanta

lá dentro

que plange, irmã

 

* * *


OFÍCIO

 

Tatear a origem

é iludir-se.

 

O escrito, à mercê

do que foi dito,

inaugura outro país.

 

O que se dá nos mapas

em forma

de província, urbe

& melhorias

 

não é senão um caco

de palavra.

 

A origem ressona

grave,

sem nação ou pacto.

Há quem a leve

 

no bolso, em crimes

que nos deserdam.

 

Outros a curtem sob a

forma de bois de aluguel.

Ou a costuram em óleos

santos.

 

Mas há os ferinos e seu

humour

que tira o minério

das conchas.

 

Por eles a origem despista

rendas, misérias

e outros benefícios.

 

Pela origem

somos-não-somos.

Espécie que escreve

para esquecer.


* * *

 

SE CONDE FOSSE

 

Não tiraria dos ombros

a miséria que o assiste.

 

Estando assim, bem

vestido, não se despe.

 

Não troca por cetim

a rude mostra de roupa.


Peça por peça fez-se

senhor de pouca

 

monta. Não mora,

se refugia sob as pontes.

 

Não paga a tiranos

a sua sorte.

 

Se conde fosse,

com a cerviz dobrada,

 

morreria.

Muito teria e nada

 

que merecesse nota.

Da miséria que o assiste

 

extrai, sem vender-se,

o que lhe basta.

 

 

 

 

 

 





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