O poeta MARIO QUINTANA nasceu no dia 30 de julho de 1906. Suas primeiras produções foram esporádicas – um soneto aos 17 anos, sob pseudônimo, ainda em Alegrete (RS), cidade natal; depois, já em Porto Alegre, na revista do colégio –, e só publicou o primeiro livro aos 34 anos: A rua dos cataventos (1940). Em 1966, ganhou o Prêmio Fernando Chinaglia e sua obra, até então composta por Canções (1946), O batalhão de letras e Sapato florido (1948), O aprendiz de feiticeiro (1950), Espelho Mágico (1951) e Poesias (1966) – ganhasse projeção nacional.
Trabalhou no jornal O Estado do Rio Grande, dirigido pelo jornalista Raul Pilla (1892-1973), onde fazia uma seção chamada “O jornal dos jornais”, onde também traduzia os telegramas que chegavam à redação com as notícias internacionais. Antes de começar a trabalhar na Revista do Globo, publicou um poema na revista carioca Para Todos, dirigida pelo poeta Álvaro Moreyra (1888-1964). A partir de 1930, colaborou com a Revista do Globo e também com a editora, sob direção de Henrique Bertaso (1906-1977), que, por sua vez, tinha a assessoria de Erico Verissimo (1905-1975).
Como a Globo era responsável, no Brasil, por grandes autores da atualidade, Quintana, fluente em inglês e francês, traduziu Virgínia Woolf (1882-1941), Lin Yutang (1895-1975), Aldous Huxley (1894-1953), Joseph Conrad (1857-1924), W. Somerset Maugham (1874-1965), Honoré de Balzac (1799-1850), Guy de Maupassant (1850-1893) e Giovanni Papini (1881-1956) – foram mais de 130 títulos da literatura universal, entre eles, Em busca do tempo perdido, de Marcel Proust (1871-1922).
Em 1980, Quintana foi homenageado com o Prêmio Machado de Assis pela Academia Brasileira de Letras (ABL) e recebeu o Prêmio Jabuti em 1981, como Personalidade Literária do Ano. No Rio Grande do Sul, tornou-se cidadão honorário de Porto Alegre em 1967, em 1968, foi homenageado pela Prefeitura com um busto (“Um engano em bronze é um engano eterno”), exposto no foyer da Casa de Cultura Mario Quintana (CCQM), e foi agraciado pelo Governo do Estado com a medalha Negrinho do Pastoreio em 1976, quando completou 70 anos. Em 2001, os escultores Xico Stockinger (1919-2009), que também esculpiu o busto, e Eloisa Tregnagno criaram o Monumento à Literatura, representado pelas estátuas de Mario conversando com Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), instalado na Praça da Alfândega, em Porto Alegre.


Mesmo reconhecido por leitores de diferentes regiões do país e do exterior, com diferentes graus de exigência, Mario Quintana ficou de fora da Academia Brasileira de Letras. Em 1980, a coletânea 80 anos de poesia foi considerada “uma consagração raramente vista na vida literária brasileira” (BRAVO, 2006, p. 47), acompanhada de uma exposição sobre sua vida. Em 1981, quando lançada a Nova Antologia Poética, foram acrescentados 40 poemas que não constavam na primeira. Um dos livros mais conhecidos de Quintana é Do Caderno H e outros poemas, que reuniu poemas curtos em prosa publicados originalmente nas páginas do jornal Correio do Povo, onde escreveu de 1953 até 1977.
Em 1983, o Hotel Majestic – no centro histórico de Porto Alegre, onde morou entre 1968 e 1980 – foi tombado pelo município e transformado na Casa de Cultura Mario Quintana (CCQM), onde o quarto de Mario foi reconstruído em uma das salas, sob orientação da sobrinha-neta Elena, que havia sido secretária do poeta de 1979 a 1994. Em 2019, a fotógrafa Dulce Helfer homenageou o poeta com a mostra 25 quadros de ausência
Mario Quintana faleceu em 5 de maio de 1994, aos 87 anos, e encontra-se sepultado no Cemitério São Miguel e Almas, em Porto Alegre.

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A Voz

Ser poeta não é dizer grandes coisas, mas ter uma voz reconhecível dentre todas as outras.

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CANÇÃO DA PRIMAVERA

Para Erico Verissimo

Primavera cruza o rio
Cruza o sonho que tu sonhas.
Na cidade adormecida
Primavera vem chegando.

Catavento enlouqueceu,
Ficou girando, girando.
Em torno do catavento
Dancemos todos em bando.

Dancemos todos, dancemos,
Amadas, Mortos, Amigos,
Dancemos todos até
Não mais saber o motivo...

Até que as paineiras tenham
Por sobre os muros florido!

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CARTAZ PARA UMA FEIRA DO LIVRO

Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem.

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OS DEGRAUS

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos – onde
Os deuses, por trás de suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

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OBSESSÃO DO MAR OCEANO

Vou andando feliz pelas ruas sem nome...
Que vento bom sopra do Mar Oceano!
Meu amor eu nem sei como se chama,
Nem sei se é muito longe o Mar Oceano...
Mas há vasos cobertos de conchinhas
Sobre as mesas... e moças nas janelas
Com brincos e pulseiras de coral...
Búzios calçando portas... caravelas
Sonhando imóveis sobre velhos pianos...
Nisto,
Na vitrina do bric o teu sorriso, Antínous,
E eu me lembrei do pobre imperador Adriano,
De su’alma perdida e vaga na neblina...
Mas como sopra o vento sobre o Mar Oceano!
Se eu morresse amanhã, só deixaria, só,
Uma caixa de música
Uma bússola
Um mapa figurado
Uns poemas cheios da beleza única
De estarem inconclusos...

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