O poeta GUILHERME DE ALMEIDA nasceu em Campinas (SP), a 24 de julho de 1890. Fez
jornalismo literário e publicou o primeiro livro Nós, em 1917. Por alguns críticos, é visto apenas como intérprete
de certos momentos nacionais (“Moeda Paulista”, “Canção do Expedicionário” e a
letra do “Hino da Televisão Brasileira”, para a primeira transmissão da Rede
Tupi de Televisão, em 18 de setembro de 1950). Porém, as aproximações com o
movimento da Semana de 22 e o grupo de intelectuais que estavam envolvidos foram
intensas.
Apesar de no livro Era uma vez..., publicado naquele ano, o
poeta mantivesse a métrica decassilábica e temática crepuscular, ajudou a
fundar, com Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Sérgio Milliet e outros, a
revisa Klaxon, mídia que divulgou o
pensamento modernista. Em 1925, excursionou por alguns estados, inclusive o Rio
Grande do Sul, para divulgar a literatura modernista e publicando os livros Meu e Raça, é que se percebe a aproximação com a vertente
lírico-nacionalista do movimento, inclusive com publicação na Revista da Antropofagia, em sua primeira
fase (1928-1929). Foi o primeiro modernista a ser eleito para a Academia
Brasileira de Letras (ABL).
Em 1947, editou Poesia Vária e, em 1951, O anjo de sal. Com eles, popularizou o
haicai, forma poética japonesa praticada pelo menos desde o começo dos anos 20
no Brasil, e que ele via como um espaço para o virtuosismo técnico; entusiasta
do gênero, Guilherme destacou-se pela disciplina para a produção, ao mesmo
tempo em que alterava a forma original do poema, o que permitiu ampliar a
regularidade métrica e utilizar um título; o “Príncipe dos poetas brasileiros” (eleito
em 1959, em votação popular pelo jornal Correio
da Manhã) contribuiu para a difusão do gênero escrevendo para jornais, como
O Estado de S. Paulo (o artigo “Os
meus haicais”, 1937) e como primeiro presidente da Associação Cultural
Brasil-Japão (SP), mas tornou a escrita do haicai mais formalista e menos
espontânea, o que só foi revisto quando o poeta Haroldo de Campos publicou um
artigo sobre poesia japonesa (“Visualidade e concisão na poesia japonesa”,
1964).
Guilherme de Almeida também
traduziu a peça Huis Clos (“Entre
quatro paredes”), de Jean-Paul Sartre, e O
amor de Bilitis (algumas canções), de Pierre Louÿs, entre outras obras, e
escreveu críticas de cinema para o jornal O
Estado de S. Paulo. Faleceu em 11 de julho de 1969, em casa, local que se
tornou o museu biográfico e literário Casa Guilherme de Almeida (em 1979), que
também abriga um centro de estudos e tradução literária.
* * *
O HAIKAI
Lava, escorre, agita
a areia. E enfim, na bateia,
fica uma pepita.
* * *
FESTA MÓVEL
Nós dois? – Não me lembro.
Quando era que a primavera
caía em setembro?
* * *
NOTURNO
Na cidade, a lua:
a joia branca que boia
na lama da rua.
* * *
VELHICE
Uma folha morta.
Um galho no céu grisalho.
Fecho a minha porta.
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