O carioca EDMILSON BORRET nasceu no dia 27 de julho de 1967, no Rio de Janeiro (RJ). Publicou o livro de poemas “Entre cão e lobo”, em 2018, seguido pelos contos de Diário dos vivos & outros escritos, em 2019.
Formado em Letras – Literatura e Francês, é professor de Língua Portuguesa na rede municipal carioca, é fotógrafo amador e publica nos suplementos literários “Ameopoema” e “Revista Acre”, de Ouro Preto (MG).

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O SERENO DE TUDO

O sereno de tudo não recobre: encobre.
É umedecimento de dentro, feito o feminil.
Não é só da madrugada o sereno de tudo:
não tem tempo. incrustra-se na substância
porosa da vida brotada de poços artesianos.
E da fundura e do dentro ganha tudo o que
vivo permanece e o que um dia permaneceu.
Vai rumoreando entre o céu e as pedras
e se compadece da secura original de tudo.
Não se coleta em lâminas ou balões de vidro
o sereno de tudo. Não há novidade!
O sereno de tudo inventou a invenção
maior de todas as invenções: o desejo.

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A MEDIDA DOS HOMENS

rasos os olhos dos homens
em que lhes pese a fundura da alma
leves suas horas noturnas
em que lhes pese o peso de anos
montanhosos seus sonhos
em que lhes pese a estatura de homens
esbeltos seus corações prêt-à-porter
em que lhes pese o grasso medo
exatas suas ruas e cidades
em que lhes pese o passo torto
rijas suas certezas poucas
em que lhes pese a carne trêmula
áridos seus terços e novenas
em que lhes pese o úmido sexo
decotadas suas ingratas atitudes
em que lhes pese o recato da amizade
canhotos seus descuidados encontros
em que lhes pese a destreza do amor
de resto resta-lhes a medida
de músculos
de sangue
de carne
de pelos
de ossos
em que lhes pese
a medida de pó

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