Ele nasceu Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes em 19 de outubro de 1913, mas o mundo o conhece como VINICIUS DE MORAES. Importante poeta da Segunda Fase do Modernismo, também foi compositor, cronista e crítico de cinema. O livro de estreia, de 1933, é O caminho para a distância – inicialmente renegado pelo poeta –, que marca o início da fase conhecida como transcendentalista; o último é Ariana, a Mulher (1936).

Nos anos 30 tornou-se amigo de Manuel Bandeira (1886-1968), Mário de Andrade (1893-1945) e Oswald de Andrade (1890-1954). Neste período, publicou entre outros, Forma e Exegese (1936) e Novos poemas (1938). Depois da fase lírica e transcendental, seus versos passaram a ter a marca da simplicidade e da sensualidade, mas também da temática social. Trata-se de uma poesia mais viril, em movimentos de aproximação do mundo material, com a difícil, mas consistente repulsa ao idealismo dos primeiros anos, conforme teria admitido ao publicar a Antologia Poética (1955). Os mais conhecidos desta fase são Cinco Elegias, de 1943, e Poemas, Sonetos e Baladas, de 1946.  Na década seguinte, Livro de Sonetos (1956) e Para Viver um Grande Amor (poesia). Os poemas “Rosa de Hiroshima” (1954) e “Operário em Construção” (1956), são exemplos do engajamento social de uma poesia lírica comprometida com o cotidiano, vinculada aos grandes dramas sociais do seu tempo.

Na música, ficou conhecido pelas parcerias com Tom Jobim (1927-1994), Toquinho, Baden Powell (1937-2000), João Gilberto (1931-2019), Francis Hime, Chico Buarque e Carlos Lyra. Praticou canto coral no Colégio Santo Inácio, de padres jesuítas. Toquinho viria ser o mais constante parceiro a partir dos anos 70.

Em 25 de setembro de 1956 estreou a peça Orfeu da Conceição – a mítica história de Orfeu e Eurídice ambientada no contexto das favelas cariocas – no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com cenários de Oscar Niemeyer (1907-2012), trilha sonora de Tom Jobim e letras de Vinicius; transposta para o cinema, foi premiada com a Palma de Ouro no Festival de Cannes, com o Oscar de melhor filme Estrangeiro e com o Globo de Ouro, em 1959.

Com Jobim ainda compôs, entre outras canções, "Chega de Saudade", gravada por João Gilberto, em 1958, que marca o início da bossa nova, “Eu sei que vou te amar”, "Insensatez" e a clássica “Garota de Ipanema”, feita em homenagem à Helô Pinheiro, que virou um hino (não oficial) da bossa nova. Um ano após ter sido lançada, a música foi adaptada e ganhou uma versão em inglês (The girl from Ipanema), cantada por Astrud Gilberto. A criação estourou e recebeu o Grammy de Gravação do Ano (1964). Frank Sinatra (1915-1998), Ella Fitzgerald (1917-1996), Nat King Cole (1919-1965) e Cher regravaram o clássico, reinterpretado nos mais diferentes gêneros musicais. Garota de Ipanema é a segunda música mais tocada da história – perde apenas para Yesterday, dos Beatles (1965).

Vinicius diplomou-se em Ciências Jurídicas e Sociais em 1933, e, três anos depois, ganhou uma bolsa de estudos do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesa na Universidade de Oxford (EUA), onde permaneceu até 1941. Na segunda vez que prestou concurso para o Ministério das Relações Exteriores, em 1943, foi aprovado. Assumiu em 1946 o vice-consulado em Los Angeles e, na década de 1950, atuou nas embaixadas de Paris (1953 e 1963) e Montevidéu (1959). Em 1968, enquanto fazia shows em Lisboa, na companhia de Chico Buarque e Nara Leão (1942-1989), foi comunicado de seu afastamento da carreira diplomática e aposentado compulsoriamente pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5), depois de 26 anos de serviços prestados – a razão, para o chanceler Magalhães Pinto (1909-1996) era o seu comportamento – foi chamado de “vagabundo” pelo presidente Arthur da Costa e Silva (CASTRO, 1990, p. 408). Em 1998 foi anistiado post-mortem e, em 2010, promovido ao cargo de “ministro de primeira classe”, equivalente a embaixador (Diário Oficial, 22 de junho de 2010, Lei nº 12.265).

O álbum Arca de Noé, volume 2 é o último trabalho de Vinicius de Moraes e se tornaria um dos mais importantes discos da música popular brasileira pós-80 voltado para o público infantil. Os dois álbuns têm origem nos poemas criados por Vinicius para os filhos Susana, Pedro, Georgiana e Luciana, e musicados, ainda na década de 1950, pelo paranaense Paulo Soledade (1919-1999). O livro infantil foi publicado em 1970, quando nasceu a filha Maria, a caçula: A Arca de Noé – Poemas Infantis de Vinicius de Morais, onde constam, entre outros, os poemas “O Pato”, “O Relógio” e “A casa”, ilustrados pela artista plástica Marie Louise Nery. O livro virou disco – 1972, na Itália, em 1980, logo depois da morte do poeta, no Brasil, com direito ao especial Vinicius para Criança pela televisão; em 1981 sairia o segundo volume, ambos com capas de Elifas Andreato.

Na madrugada de 9 de julho de 1980, Vinicius de Moraes começou a se sentir mal na banheira da casa onde morava, na Gávea, e chegou a ser acordado pela empregada. Toquinho, que havia ficado por lá, tentou socorrê-lo, seguido por Gilda Mattoso (última esposa do poeta); Vinicius morreu pela manhã, vitimado por um edema pulmonar aos 66 anos.


* * *



A ROSA DE HIROSHIMA


Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas

Mas oh não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroxima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida.

A rosa com cirrose

A antirrosa atômica

Sem cor sem perfume

Sem rosa sem nada


* * *


EU SEI QUE VOU TE AMAR


Eu sei que vou te amar

Por toda a minha vida eu vou te amar

Em cada despedida eu vou te amar

Desesperadamente

Eu sei que vou te amar

E cada verso meu será pra te dizer

Que eu sei que vou te amar

Por toda a minha vida

Eu sei que vou chorar

A cada ausência tua eu vou chorar,

Mas cada volta tua há de apagar

O que essa ausência tua me causou

Eu sei que vou sofrer

A eterna desventura de viver a espera

De viver ao lado teu

Por toda a minha vida.


* * *


A UMA MULHER


Quando a madrugada entrou eu estendi o meu peito nu sobre o teu peito

Estavas trêmula e teu rosto pálido e tuas mãos frias

E a angústia do regresso morava já nos teus olhos.

Tive piedade do teu destino que era morrer no meu destino

Quis afastar por um segundo de ti o fardo da carne

Quis beijar-te num vago carinho agradecido.

Mas quando meus lábios tocaram teus lábios

Eu compreendi que a morte já estava no teu corpo

E que era preciso fugir para não perder o único instante

Em que foste realmente a ausência de sofrimento

Em que realmente foste a serenidade.


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