Nascido em 26 de outubro de 1953, em Mombuca (SP), OSWALDO ANTÔNIO BEGIATO publicou pela primeira em 1988, o livro O Menino, ainda em mimeógrafo. O segundo veio em 2016, Algumas poesias miúdas. Seus poemas foram publicados em antologias nacionais, mas principalmente na internet, no blog oabegiato-poesias.blogspot.com, ou em espaços literários como campodeorquideas.com.br, portalantoniopoeta.blogspot.com e poetasdelmundo.com.

Formou-se advogado, sem exercer a profissão. Faleceu no dia 30 de abril de 2020, sem confirmação da causa – se foi pela covid-19, por problemas cardíacos ou em decorrência de um tumor que havia extraído ainda em 2007.


* * *


ORAÇÃO A MIM MESMO


Que eu me permita

Silenciar e aprender e sonhar mais.

Falar menos com minhas certezas

E mais com meus gestos de gratidão.

Chorar menos pelos cantos

E mais na presença de meus amigos.

Acreditar mais na importância de minhas bobagens

E menos na de meus grandes planos.


Ver nos olhos de quem me vê

A admiração que else me têm

E não a inveja que prepotentemente penso que têm.

Escutar com meus ouvidos atentos

E minha boca estática,

As palavras que se fazem gestos

E OS gestos que se fazem palavras


Permitir sempre

Escutar aquilo que eu não tenho

Me permitido escutar.


Saber realizar

OS sonhos que nascem em mim

E por mim

E comigo morrem por eu não OS saber sonhos.


Então, que eu possa viver

OS sonhos possíveis

E OS impossíveis;

Aqueles que morrem

E ressuscitam

A cada novo fruto,

A cada nova flor,

A cada novo calor,

A cada nova geada,

A cada novo dia.


Que eu possa sonhar o AR,

Sonhar o mar,

Sonhar o amar,

Sonhar o amalgamar.


Que eu me permita o silêncio das formas,

Dos movimentos,

Do impossível,

DA imensidão de toda profundeza.


Que eu possa substituir minhas palavras

Pelo toque,

Pelo sentir,

Pelo compreender,

Pelo segredo das coisas mais raras,

Pela oração mental

(aquela que a alma cria e

Que só ela, alma, ouve

E só ela, alma, responde).


Que eu saiba dimensionar o calor,

Experimentar a forma,

Vislumbrar as curvas,

Desenhar as retas,

E aprender o sabor DA exuberância

Que se mostra

Nas pequenas manifestações

DA vida.


Que eu saiba reproduzir na alma a imagem

Que entra pelos meus olhos

Fazendo-me parte suprema DA natureza,

Criando-me

E recriando-me a cada instante.


Que eu possa chorar menos de tristeza

E mais de contentamentos.

Que meu choro não seja em vão,

Que em vão não sejam

Minhas dúvidas.


Que eu saiba perder meus caminhos,

Mas saiba recuperar meus destinos

Com dignidade.

Que eu não tenha medo de nada,

Principalmente de mim mesmo:

– Que eu não tenha medo de meus medos!


Que eu adormeça

Toda vez que for derramar lágrimas inúteis,

E desperte com o coração cheio de esperanças.


Que eu faça de mim um homem sereno

Dentro de minha própria turbulência,

sábio dentro de meus limites

Pequenos e inexatos,

Humilde diante de minhas grandezas

Tolas e ingênuas

(que eu me mostre o quanto são pequenas

Minhas grandezas

E o quanto é valiosa a minha pequenez).


Que eu me permita ser mãe,

Ser pai,

E, se for preciso,

Ser órfão.


Permita-me eu ensinar o pouco que sei

E aprender o muito que não sei,

Traduzir o que OS mestres ensinaram

E compreender a alegria

Com que OS simples traduzem suas experiências;

Respeitar incondicionalmente

O ser;

O ser por is só,

Por mais nada que possa ter além de sua essência,

Auxiliar a solidão de quem chegou,

Render-me ao motivo de quem partiu

E aceitar a saudade de quem ficou.


Que eu possa amar

E ser amado.

Que eu possa amar mesmo sem ser amado,

Fazer gentilezas quando recebo carinhos;

Fazer carinhos mesmo quando não recebo

Gentilezas.


Que

Eu jamais fique só,

Mesmo quando

Eu me queira só.


Amém.


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