O poeta RODRIGO GARCIA LOPES nasceu em Londrina (PR) em 2 de outubro de 1965. É, também, tradutor, compositor, professor, editor e jornalista. Recentemente publicou O enigma das ondas, seu sétimo livro de poesias.

É dele Roteiro Literário Paulo Leminski, com fotos de Eduardo Macarios (2018), Estúdio Realidade (2013); Visibilia (2005); Nômada (2004); Polivox (2001) e Solarium (1994), que reuniu produções das décadas anteriores (Diorama, Polaroides e Solarium). O único romance, o policial O Trovador, é de 2014.

A primeira tradução de Rodrigo foi do poema “Howl”, do Allen Ginsberg para a página literária da Folha de Londrina (na época editada por Ademir de Marchi). Depois vieram Sylvia Plath e o francês Arthur Rimbaud, com Maurício Arruda Mendonça; os estadunidenses Ezra Pound, Gary Snyder, Walt Withman, Charles Bukowski, Jim Morrison, William Carlos Williams e Gertrude Stein, o irlandês Samuel Beckett e a inglesa Mina Loy (1882-1966), entre outros.

Gravou os CDs Canções do Estúdio Realidade (2013) e Polivox (2011).

Como jornalista, editou a revista de arte e literatura Coyote, com os escritores e jornalistas Marcos Losnak e Ademir Assunção, revista criada em 2002. Trabalhou nas redações da Folha de Londrina, Folha de S.Paulo (1988), dos jornais Nicolau (1989) e A Notícia (1996), e publicou, em 1996, o livro de entrevistas Vozes & visões: panorama da arte e cultura norte-americana hoje.

Lecionou literatura brasileira, anglo-americana e teoria literária na Universidade Estadual de Londrina (UEL-PR) e na Fundação Universidade de Rio Grande (FURG-RS). Nos anos de 2006 a 2008 foi professor no departamento de Português da Universidade da Carolina do Norte (Estados Unidos). Em 2005 foi um dos organizadores do primeiro festival literário de Londrina, o Londrix.

* * *



RIMAS POBRES

 

Dar

o que ninguém quer

 

Querer

o que não se pode dar

 

Amar

doa a quem doer

 

* * *

 

OUTRO OUTONO

 

Uma nuvem fina fia o horizonte,

paira no rosa de seus últimos

instantes, praia de pensamento.

 

A fragata flutua no crepúsculo

sem motivo, sem canto nem sentido.

Afirma apenas: seguimos vivo.

 

As ilhas também não nos perguntam

nada. Nem nos acusam. O vento sul

há três dias está se consumido, sendo

só o que é, e não o que será.

 

Incline a cabeça em direção ao céu.

Confira este espaço, a nuvem fina

que já se foi, e a idéia da noite

ganhando volume e expectativa.

 

* * *

 

IMPÉRIO DOS SEGUNDOS

 

Se eu fosse parar pra saber

o sabor deste instante

não iria jamais perceber

do que é feito o durante,

 

a carne de cada segundo,

minuto a cada poente

de que é feito este mudo,

sangue, esperma, poeira,

 

não ia jamais lembrar

da trama da tarde, museu

onde moram as velhas horas,

nem o duro rosto deste outro

 

outono, matéria, mistério,

nem a memória, esse mármore

em fluxo, rugido em estéreo

de uma incessante cachoeira.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog