Nascida em 12 de outubro de 1993, em Recife (PE), a poeta
BELL PUÃ, é autora de É que dei o perdido na razão (2018) e Lutar é crime (2019), e tem poemas
publicados nas antologias No entanto:
dissonâncias, Ninguém solta a mão de
ninguém – manifesto afetivo de resistência e pelas liberdades e Querem nos calar – poemas para serem lidos
em voz alta (2019)
Isabella Puente de Almeida conquistou a primeira edição da
Batalha de Poesia Falada Slam das Minas, em 2017; ainda naquele ano, venceu o
Slam BR, disputado em São Paulo (SP). Foi representante do Brasil na Copa do
Mundo de Slam de 2018, em Paris, mesmo ano em que participou da Festa Literária
Internaciona de Paraty (RJ), como artista convidada. O slam, ou poetry slam,
nasceu na década de 1980, em Chicago (EUA), como desdobramento da cultura hip
hop, principalmente do RAP (rhythm and poetry).
É mestra em História pelo Programa de Pós-Graduação em
História da UFPE, na linha de Relações de Poder, Sociedade e Ambiente.
Veja uma performance da poeta em https://youtu.be/ZT5qnQDn1bE.
* *
*
NEOLATINA
molhados os sonhos no asfalto
Recife nunca chove no verão
mas hoje vi gotas arrancarem
cada
pedaço
do
meu
chão
espalharem os poemas de amor
que nunca soube escrever
fingia que os achava estúpidos
sem querer assumir
minha incompetência
pensava em desistir
pedi clemência
às paixões sobreviventes
virava ao avesso
tirava do eixo
versos salgados
os sonhos no asfalto
molhados
meus poemas de amor
engasgados
* * *
tá ligado que
combatemos
e também caímos
no jogo das
relações de poder?
de que serve
teu conhecimento,
senão para alento
dum frustrado professor
a esperança adormecida
humildade perdida
num título de doutor?
[trecho]
* *
*
(…)
‘pra morrer desse jeito
alguma coisa ele fez’
seu maior crime foi ser
negro
da periferia
como Rafael Braga
condenado a 11 anos de
xadrez
sabe o que ele não fez?
nascer filho de
desembargadora
podia portar 120kg de droga
AK 47 e metralhadora
que tava solto no mundo
mais um criminoso rico
rindo à toa.
[trecho]
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