O poeta ROBERTO MEDINA nasceu no dia 17 de outubro em Alegrete (RS) e hoje mora em Brasília (DF). Publicou Pedrarias em 2011, depois de ter participado da Coletânea de poesia gaúcha contemporânea (organizada por Dilan Camargo em 2013) e das antologias 102 que contam e Brevíssimos (organizadas por Charles Kiefer, ambas em 2005).

Premiado em poesia e crônica, ministra oficinas em Porto Alegre e é consultor e editor na Redes Editora. Também escreve para o teatro. É professor e tradutor de inglês e francês, e dedica-se aos estudos dos projetos literários dos escritores Osman Lins (1924-1978), Manoel de Barros e Machado de Assis, entre outros.

* * *



OSSOS DE BORBOLETA


Para Regina da Costa da Silveira


Só o espectro do toque

E me entoco.

Chegas e

Terremotas a alma:

Solo intocado.

Me sugas notudo;

Ao depois, cachoeiro relâmpagos.

(Durmo as mil noites)

Beija-floreias, agora, veredas outras...

Fica

O sertão de imensos;

Mas tua língua

Vadia

No corpo que não me é:


* * *


ESCRITA DA FOME


Para Valéria Brisolara


E veio o cheiro suado, mal acabado

Vertigem invasora na caverna de carnes

Mel na língua - desejo entre dentes

E veio o corpo inteiro: com nome, com vocábulos

Sem pressa

E rasgou minha sede

Como leão aturdido

Rugidos e relâmpagos e silêncio e silêncio

E silêncio e chuva fina e

Segredas no ouvido dengoso:

Ora num, ora noutro

Quando escalas o pescoço,

Arrepias a superfície que me envolve

E irrompo num todo

Famélico, arenoso

E selvagem

Nisso, corro nas savanas, acho que renasço em mil mortes.

Confesso, tenho medo

Do encontro, dos olhos

Eles dizem, falam língua, trocam palavra

E ressurjo furioso na tua barriga, peito, costas e

Pernas... Gostas?

Sim, desenhas a flor da noite,

Abençoando mordidas

Em gemidos - calados

Sim, gritas assim:

Sim, sim, sim

E me escondo nos teus flancos,

E as bocas se buscam novamente,

E ainda me sussurras por um deus alado

Quando vejo tua pele,

Nela, escrevo uma paixão milenar: centímetro a centímetro

Cravo as unhas na tua carne e não leio mais nada,

E espalho rapidamente minhas letras

Nas linhas dos teus contornos.


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