O poeta WALDO MOTTA (VALDO
MOTTA, até 2002), nasceu no dia 27 de outubro de 1959 em São Mateus (ES). Suas
primeiras publicações – publicadas em plaquetes a partir de 1979 – estão
reunidas na antologia Eis o homem, de
1987. Formado em jornalismo, ministrou oficinas o Departamento Estadual de
Cultura (DEC-ES) no período.
Em 1996, o livro Bundo e outros
poemas marca a nova fase da poesia de Waldo e é indicado ao Prêmio Jabuti
de Literatura 1997. Premiado com uma bolsa de residência artística, reside na
Alemanha entre 2001 e 2002. Com a vivência, fez sua primeira tradução: o livro
infantil Was ich am See zu sehen bekam,
da escritora eslovaca Jana Bodnárová – ao longo dos anos, traduziu, do hebraico
para o português, partes da Bíblia, que deram origem ao livro Recanto – Poema das 7 Letras (2002).
Em 2009 publicou a segunda edição da coletânea Transpaixão. É um dos criadores, junto com Reginaldo Secundo, da
Rede Caranguejo, movimento que reivindica valorização dos artistas capixabas e
ampliação do mercado cultural. Entre outros livros de Waldo estão Poiezen eTerra sem mal (2015) – neste, segundo Ademir Demarchi, o poeta “se
insere fortemente numa tendência contemporânea de resgate, tradução, reinterpretação e
inspiração nas culturas indígenas”.
Sua poesia, considerada marginal e periférica,
é equivalente em termos de representatividade, a de Angélica Freitas e de
Frederico Barbosa.
* * *
EXU
YANG
Quando o último ser vivo
for somente nome (enfim!)
nas páginas do Hiperlivro,
Deus!, o que será de mim?
Oxalá não me venha o Cujo
me punir a mim. Sou réu?
Dividido em zil, eu fujo
inteiro para outro Céu.
Só cumpro os infinitos
números de nossa lenda.
Até que me enjoe o rito
e ao silêncio Eu me renda.
* *
*
CONQUANTO A ALGUNS PAREÇA
Conquanto a alguns pareça
"horrível por natureza
e só habitável por artes"
da tal civilização
mais selvagem que a selva
e mais feroz que as feras,
quão formosa e amável é a terra
aos justos reservada.
Lugar de aragem fresca
e temperatura amena,
vegetação opulenta
e frutos deliciosos.
Aqui há rochas e águas,
e vida em abundância,
fartura de alimentos,
de alegria e paz.
Aqui devemos parar,
sentar, repousar, viver.
E aqui ficar para sempre,
a cantar, dançar e louvar
nossos ancestrais e deuses.
Celebremos este reino.
Da relva aos arvoredos
e dos seixos aos penhascos,
tudo que respira e vive
cante e decante a glória
daquele que nos anima
e habita neste lugar.
* *
*
MAR
DE TANTO SANGUE E FEL
Mar
de tanto sangue e fel,
mar
amaro, mar cruel,
onde
hemos de encontrar
a
terra de leite e mel?
Quanto
mais os ventos falam
da
misteriosa terra,
tanto
mais a alma errante
em
procurá-la, erra.
Quanto
mais perambulamos,
de
léu em léu, pela terra,
atrás
da terra sem mal,
tanto
mais longe iremos
de
nosso destino real.
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