Abdias Nascimento

(Franca, SP, 14.mar.1914 – Rio de Janeiro, RJ, 23.mai.2011)


O agadá da transformação

 

Em meu peito vazio de despeito

Oxum fincou o seu ixé

sou o peixe mergulhado

no canto do pássaro odidê

pousado na folha da vida

trinando a ternura

que aconchega a criança

Ó peixe dourado que vais nadando

os dias e as noites da minha sorte

emblema de Oxum me levando

águas de Oxalá me lavando

no banho lustral da minha morte

Existo em minha natureza Ori

levedado pelos Orixás

embora o costado dos ancestrais

clame

a costa dos escravos

proclame

o cravo cravado no lombo

me tombando no tombo

da contra-costa rebelada do meu axé

inflamando na chaga do congo

a chama incendiária do quilombo

[...]

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