Marcelino Freire
(Sertânia,
PE, 20.mar)
Para Iemanjá
Oferenda não é essa perna de sofá.
Essa
marca de pneu. Esse óleo. Esse breu.
Peixes
entulhados. Assassinados. Mina Rainha.
Não
são oferenda essas latas e caixas.
Esses
restos de navio. Baleiras encalhadas.
Pinguins
tupiniquins. Mortos e afins.
Minha
Rainha.
Não fui eu quem lançou ao mar essas
garrafas
de Coca. Essas flores de bosta.
Não
mijei na tua praia. Juro que não fui eu.
Minha
Rainha.
Oferenda não são os crioulos da Guiné.
Os
negros de Cuba. Na luta. Cruzando a nado.
Caçados
e fisgados. Náufragos. Minha Rainha.
Não são para o teu altar essas lanchas
e
iates. Esses transatlânticos. Submarinos de
guerra.
Ilha de Ozônio. Minha Rainha.
Oferenda não é essa maré de merda.
Esse
tempo doente. Deriva e degelo.
Neste dia dois de fevereiro. Peço perdão.
Minha
Rainha.
Se a minha esperança é um grão de sal.
Espuma
de sabão. Nenhuma terra à vista.
Neste oceano de medo. Nada. Minha Rainha.
Comentários
Postar um comentário