Zezão Castro

(Camacan, BA, 27.mar)


Tsunami na Bahia

 

Hoje um fato cataclísmico

Assustou muitos baianos

Muitos mudaram seus planos

Temendo o evento sísmico

Desequilíbrio organísmico

Gerou muita hidrofobia

Pois logo ao nascer do dia

Sem ter válvula de escape:

Ralaram o dedo no zap

Tsunami na Bahia

 

Por aí escutando e vendo

Narro as observações

E as várias reações

Que a população foi tendo

Quis evitar mas me rendo

Não quero gerar histeria

Antes disso eu mesmo faço

(“Xêu” amarrar meu “cadasso”)

Tsunami na Bahia

 

Deu-se um tempo da política

Sendo um hiato bem raro

Nem Lula nem Bolsonaro

Nem Ciro com sua crítica

Essa notícia específica

Deu no jornal, meio-dia

Massa d’água invadiria

Vindo das Ilhas Canárias

Uma onda não, mas várias

Tsunami na Bahia

 

O Cumbre Viejo nervoso

Vulcão cuspindo fumaça

E hoje com a bíblia na praça

O pregador falacioso

Narrava com ódio e gozo

A sagrada profecia

Sertão mar se tornaria

Palco do Armagedon

Josué usou do bom

Tsunami na Bahia

 

Disseram: da capital

Só fica a Cidade Alta

Da Baixa sentiram falta

Das barracas mais queridas.

Já o Jardim das Margaridas

Um mangue se tornaria

Sucuri comendo jia

Na margem crescendo junco

Um estrago do cabrunco

Tsunami na Bahia

 

Nas bocas de pó e fumo

Dizem que houve inflação

Subiu preço do morrão

“Paulo Guedes perdeu o rumo”

Com a alta desses insumos

O PIB regrediria

Gente com desinteria

Por falta de “cremogema”

Vivendo a deprê extrema

Tsunami na Bahia

 

Na corretora de um amigo

Nadou na adversidade

Pois em tudo que é cidade

Vendeu casas em perigo

Falou pros dono “Écomigo!

Que eu vendo com alegria

Seu sítio em Praia da Guia

Com rapidez e apreço

Pela metade do preço”

Tsunami na Bahia

 

No ramo do acarajé

Houve até especulação

Que o feijão fradinho não

Chegaria em Itacaré

Faltaria em Moreré

As roça se alagaria

As bage se ingiaria

Até Feira de Santana

Que maremoto sacana!

Tsunami na Bahia

 

Em Itapuã a onda

Chegando em ritmo brando

Logo na casa de Xando

Perto de onde a pedra se estronda

Junto a varanda redonda

Sua horta acabaria

Seu carro enferrujaria

Seu pé de pitanga, então...

Era arrancado do chão

Tsunami na Bahia.

 

Muitos colecionadores

De LPs, meus coligados

Guardaram vinis lacrados

Em pisos superiores

Todos cheios de amores

Fonográfica iguaria

Chega me deu nervosia...

Meus discos de mais valor

Já mandei pro interior

Tsunami na Bahia

 

Suspenderam os editais

De governo e prefeitura

Água mole em pedra dura

Derrete mil sonrisais

Cultura sofre demais

Na inércia da maresia

O sal também entraria

Nas cadeias e quartéis

Nas moitas e nos motéis

Tsunami na Bahia

 

A atual prefeitura

Sofreria dura ação

Pedindo a interdição

Com uma alegação bem dura:

Tá erodida a estrutura

Só Brotas resistiria

E pra lá o Poder ia

Fugir da maré assassina

Entrou água na vacina

Tsunami na Bahia

 

Assim fecho a despedida

Antes que o vulcão derreta

E pra dendo mar arremeta

Com sua crosta derretida

Se a força for revertida

Numa rebelde energia

Tem gente que surfaria

Dropando e pegando tubo

E eu que nem na prancha subo?

Tsunami na Bahia

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