Fernando Abreu

(São Luís, MA, 12.mar.1965)


A loucura mostra as unhas


Sempre que a loucura mostra as unhas de gato

Para arranhar teus ossos sob a paz do beco

Deixa elétrica dor dizer na lata e a seco

Vida de gado na mesmice desse mato

 

Fingindo ser farinha de outro saco

Cão e gato se lambem à luz do gueto

Erguendo brindes comem o mesmo naco

Da tua carcaça crua em branco & preto

 

Exposto assim ninguém aguenta o tranco

Entrega os pontos antes do último ato

Um pirata perneta caolho troncho e manco

Surge do fundo para afundar teu barco

 

Dança com esse lobo até soltar o pelo

No fim tem sempre um olho atrás do palco

Uiva de escalpo em punho e fim de papo

Pouco importa saber quem paga o pato.

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