André Vaz de Campos Tourinho
(Salvador,
BA, 28.mar)
Quarentena de Outono
Mal acabo de chegar à vintena
Aniversariando em quarentena
A adolescência aqui se encerra
Heis de mim segunda década
Porém, o mundo nosso exige mais
Do que divagar sobre questões particulares minhas
Acordamos das anestesias banais
Nova doença fora precisa para curar velhas feridas
Celebro a vida entre cercas
Pois lá fora o algoz é invisível
Na tosse, no toque
De quem quer que seja
Não há rosto, casta, cor, pátria ou rito
Alvo todos, salvo ninguém, tampouco invicto
Das coberturas da Graça e Vitória
Às favelas do Retiro, deserto visto
Em absoluto tudo, cena histórica
Como se nada houvesse existido
Um povo que despovoou sua terra
Aos moldes dum êxodo domiciliar
Até as praças de consumo decidiram cessar
Tais quais as turbinas de sovinas, como será?
Feito formigas na iminência da chuva
Percebemo-nos pequenos numa luta
Após séculos de avanço e progresso, o inimigo
Nada mais nada menos é do que microscópico
Raul Seixas, sim, ele,
Falhara em profeta serdes
O dia em que a Terra parou não chegara
Soberano geoide plenamente translada
Somente a humanidade, de corpo,
E, quiçá, alma, curvou-se ao Todo
Já o homem enquanto ser não desiste
Por isso, não há de prever fim de fins
Quantas pragas e estiadas vencemos
Tal advento como alerta tomemo-nos
Muito exalta-se nas estações demais
O verão pela atmosfera tropical energética
Praias, biquínis, bronze à pele e carnavais
Pelas cores e flores a brotar, a primavera
Mas sábio revelou-se o outono prudente
Que, em tempos correntes, dos outros à frente
Prepara a folhagem a invernos incertos
Contudo, não desanimeis assim tão fácil
Mesmo em final de enredos, há posfácio
Com frescor esperançoso de menino
Cajado bata que nada está perdido.
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