Elson Bentes Farias

(Itacoatiara, AM, 11.jun)


Romance dos pecados do poeta


Os pássaros, os canteiros

cedo acordam com os coros,

luz plantada sobre os córregos

na chácara frente à casa.


Vendedores apregoando

cruzam com os automóveis,

levam nos seus tabuleiros

bananas, mangas, laranjas.


Uma palavra à cabeça

logo lhe sobe, sem graça,

gotejada de sinistras

notações, é o pecado.


Não a manhã com os coros

dos pássaros apesar

da fina chuva que cai

em todo mês de novembro.


O pecado da poesia,

os desacertos do poeta,

a luta para captar

a verdade das imagens,


o pecado de forjar

nas manhãs outra manhã,

e querer mudar o ritmo

do caminho das criaturas,


a teimosa gratuidade

de malhar em ferro frio,

a larva tirar da lama,

da canção da guerra, a paz.


Pecado de desejar

a palavra, que rebenta

com os bichos das caieiras

dos costumes diários, limpa.


Pecado de trabalhar

sem sujar as mãos e as unhas,

sem se mostrar no trabalho

aos irmãos, amigos, todos.


Pecado mortal do poeta

a poesia desdenhada

pelos pássaros em coro

na chácara frente à casa.

 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog