Floriano Martins
(Fortaleza, CE, 30.jun)
Braços de Janis Joplin
Recorto teu corpo uma vez mais, até que
a memória revele a música por
trás de seus
truques.
Seios me dizem quais luas irei
encontrar a caminho, os traços sutis do
vento, a vegetação
anotando planos sobre a pele que talvez não sejam
cumpridos.
O olhar descreve um secreto ninho de
acidentes.
Onde estás? Os objetos à volta recusam
a tua ausência.
Os dias estão desaparecendo e já não
reconheço a cor de tua queda.
Pérolas apreendidas na bagagem do mito.
Sombras escorregadias no leito da
oração com que tinges a palidez de
minha dor.
Respiro o teu nome e volto a conferir
os rascunhos que fiz de teu corpo.
Eras nuvens ativadas dentro do espelho
da paisagem, fragmentos de
abismo que não chegamos a mastigar.
Sonhos empoeirados que guardamos para
outras noites.
Um tufo de imprevistos deixado embaixo
da cama sem motivo algum.
Os teus dias passaram todos comigo.
Jamais saímos daqui.
Ao recolher aqueles esboços todos um
deles resplendia no arquivo como
uma fagulha.
Dediquei-me então à façanha de criar esta tua última astúcia.
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