Abelardo Romero Dantas

(Lagarto, SE, 13.jun.1907 –

Lagarto, SE, 17.mar.1979)



Trem noturno


Trem Noturno

Noite ideal para um brusco desaparecimento...

 

Todos estão impacientes

Mas o trem noturno vai partir.


Mereço este castigo de andar sem rumo

Por não haver engano a ninguém?

Agora também desejo que ninguém acredite

na amargura das minhas palavras.

Preciso ser diferente, diferente...


O trem partiu,

Correndo sobre os rails,

Correndo, correndo...


Eu sou o passageiro que pensa, calado.

A felicidade anda sempre na frente da locomotiva.

Sou o passageiro calado do trem noturno.


Em torno de mim

Há olhos vivos,

Velozes

E há também

Olhos tristes, vagarosos.


O trem noturno

O trem

Noturno

Entre as árvores,

Entre as montanhas...


Noite ideal para um desaparecimento...


Não há testemunhas ao ar livre.

Somente o vento acompanha o comboio iluminado,

Entre as árvores,

Entre as montanhas.


Vou pensando em ti,

Mas eu não te quero mais.

Quiseste me judiar como se eu fosse pássaro ou menino.

Não te quero mais.


E já que não posso ser feliz,

Quero o destino do trem noturno

Iluminado,

Entre as arvores,

Entre as montanhas.

Madrugada.


A geada

Do campo

Entrou no meu compartimento.

É creme para o meu rosto macilento.

Estou esquecido,

Entorpecido.

Nem pensamentos bons poderei ter.


Acompanhando o trem noturno

O vento

Está menos

Violento


Eu continuo sendo o passageiro calado,

Um viajante clandestino

Do trem noturno

Entre arvores

Reaparecidas,

Entre as montanhas

Reformadas.


Só quero o destino

Dos trens noturnos,

Desenfreados,

Tombados

Entre as árvores,

E espatifados

Ao sopé das montanhas,

Ao amanhecer.

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