Claufe Rodrigues

(Rio de Janeiro, RJ, 27.jun)



Ode ao vento


O vento que ara teus cabelos com frescas memórias

é o mesmo que ainda ontem expulsou Eva do paraíso

castigou as estepes russas com chuvas de granizo

soprou vozes de encanto aos jovens sem juízo

lambeu o sal dos corpos nas praias contemporâneas

arrancou árvores na Amazônia, pontes na Pensilvânia e telhados nas Antilhas

construiu paisagens férteis com as areias dos desertos

arrastou navios de piche por destinos incertos

estalou na Ringstrasse o cangote de Nietzsche com o frio chicote de Lou Salomé

moveu Dom Quixote através dos moinhos

percorreu ruas e rios e marés

tangeu nuvens acima das montanhas.

Sempre o mesmo vento, quente ou gelado,

entrando e saindo pelos mesmos buracos, renascendo pelas entranhas,

esse vento tão rente e tão remoto

que como um pente acaricia teus cabelos

enquanto por puro capricho

maltrata meu olho com um maldito cisco. 

 

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