Marco Celso Huffell Viola
(Santiago, RS, 15.jun)
Retrato mal falado
– Seu guarda:
Ele estava quase pelado
e parecia índio Pataxó
ou Txchucarramãe,
não sei.
A última vez que o vi, bebia
caldo de cana caiana
na esquina de Copacabana,
vestia a camisa do Bangu
e uma sunga
que mal cobria as vergonhas.
Fazia caretas medonhas
assustando todo mundo.
Fugiu por ali,
acho que entrou na floresta da
Gávea dizendo que ia pegar
a borduna
e pedir de volta o que era seu,
a árvore que o gato comeu e o
passarinho que sumiu
e aqueles bichos cheios de pena.
Tenho pena
é de mim, tô com medo que ele
volte
com toda a tribo
e queira nos encher de paulada
e machadada e tiros com aqueles
rifles de repetição
e nos acerte na janela.
Aqui acontece de tudo, tem tanto
milagre que até Deus duvida
Aqui acontece tanto milagre que
até Deus duvida
tem mudo que fala, cego que vê,
paralítico que anda.
Não me admira que ele não seja
índio de verdade.
Pode ser algum ator maluco
fazendo pantomima
ou algum boneco grande, de
pilha.
Em todo caso, é bom verificar
havia algo estranho naquele
olhar
do jeito que nos olhou
pode estar lá, empoleirado
numa mangueira,
querendo se vingar de uma coisa
que não sei
que nós fizemos e nem sei se
devemos pagar.
Comentários
Postar um comentário