Luiz Guilherme do Prado Veppo

(Porto Alegre, RS, 21.jun.1932 – Santa Maria, RS, 13.ago.1999)



O cão


Há um cão dentro de mim lambendo as horas

Feridas pelos golpes das demoras


Há um cão dentro de mim de longas unhas

Intimidando a acusação das testemunhas


Há um cão dentro de mim nos desatinos

Com os afiados punhais dos seus caninos


Há um cão dentro de mim a roer os ossos

De todos os meus pecados e remorsos


Há um cão dentro de mim de olhar tristonho

Com a cabeça num dos joelhos do meu sonho


Há um cão dentro de mim que sente frio

Onde à beira do passado tem um rio


Há um cão dentro de mim nas primaveras

Um soberbo animal entre quimeras


Há um cão dentro de mim pulando a esmo

Em torno da alegria de si mesmo


Há um cão dentro de mim sobre um fonema

No azul limite esférico do poema


Há um cão dentro de mim uivando à Lua

Pois todo cão leva um lobo pela rua


Há um cão dentro de mim múltiplo e vário

Que vai me acompanhar até o calvário.

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