Laís
Araruna de Aquino
(Recife,
PE, 24.jun)
As memórias invisíveis
caminhas pelas estradas polvorentas
da tua memória
recebes o vento pelas costas
algum sopro veio do mediterrâneo e
tem a secura do deserto
pessoas cruzam e desaparecem para
nunca mais
estás sob o sol asfixiante de junho à
esquina da Calle Evangelista
ou passeias no Luxemburgo sob um
guarda-chuva chinês
foi este ano ou o passado ou uma
década atrás
(agora já contas as décadas)
mas os nomes traem as coisas
falta-lhes o excesso a mancha a impureza
os nomes têm a textura derruída da
ausência
e a sua lâmina, uma ponta cega
encardida pelo tempo
a Rua da Aurora no começo de uma
tarde em agosto
não é a Rua da Aurora no começo de
uma tarde em agosto
é também o teu ser precário sobre o
Capiberibe veloz
e os quadros e arcos das pontes na
extensão do azul
sem os nomes as coisas dormem no lago
universal
do esquecimento e misturando-se às
águas e às algas
destituem-se pouco a pouco como as
margens de um rio
tragadas pela correnteza
chamá-las porém não lhes devolveria a
face
(vulto que se perdeu ao virar a
esquina)
cada coisa porém guarda o seu secreto
nome
sob a arquitetura inviolável de um
momento extinto
a poesia é – talvez – a tentativa de
construir
para esse nome – uma esfinge à luz do dia
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