Machado de Assis
[Joaquim Maria Machado de Assis]
(Rio de Janeiro, RJ, 21.jun.1839 – Rio de Janeiro, RJ, 29.set.1908)



Amanhã


Amanhã quando a lâmpada da vida
Na minha fronte se apagar, tremendo,
Ao sopro do tufão,
Oh! derrama uma lágrima sincera
Sobre o meu peito macilento e triste,
E reza uma oração!


Será uma saudade verdadeira,
Uma flor que me arome a sepultura,
Um raio sobre o gelo...
Ouvirei a canção das tuas dores,
E levarei saudades bem sombrias
Deste meu pesadelo.


Lembrarei além-túmulo essas noites
Misteriosas festivais e belas
Da estação dos amores!
Noites formosas, para amor criadas;
Que coroavam nosso amor tão puro
De ventura e de flores!

Lembrarei nosso amor... E o teu pranto
Ardente como a luz de um sol do estio
Irá banhar-me a campa
E as lágrimas leais que derramares,
O astro beijará – que pelas noites
No oceano se estampa!


Um olhar, um olhar desses teus olhos!
Eu o peço, mulher! sobre o meu túmulo
Um olhar de afeição!
Assim o sol – o ardente rei do espaço
Deixa um raio cair nas folhas secas
Que matizam o chão!


Um olhar, uma lágrima, uma prece,
É quanto basta em única lembrança.
Teresa, ao teu cantor.
Chora, reza, e contempla-me o sepulcro
E na outra vida de um viver mais puro
Terás o mesmo amor.

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