Luiz Carlos Quirino

(Porto Alegre, RS, 30.jun)



palavras proferidas 

sob sol intenso 

são sempre perseguidas 

por uma sombra gigantesca –  

tamanho que não consegue ter a voz 


do animal que sonha acordado 

e pensa viver entre os bípedes 

e se projeta contra a sorte 

rompendo o arame farpado 

que o cerca 

 

fazendo do urro 

a brutalidade da luta 

na densidão sufocante 

do que não pode ser partilhado 

nada importa a não ser 

a valia do afeto 


dos corpos que se encontram 

e já são outros abaixo dos ossos 

distantes da orla que se distancia 

e os entrega uns aos outros  


ave maria dos afogados 

na última gota de vida perdida 

nas frestas da terra rachada 


ave maria sem asas que 

bica o grão oneroso e estéril 

dos mentirosos – já que 


todas as letras têm lastro

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