CLEONICE BOURSCHEID nasceu em Porto Alegre (RS) no dia 14 de agosto. Poeta, tradutora, produtora cultural e professora, publicou Vovô, Vicente e o vento (2017, Coleção Jardim do Vovô), Piquenique no jardim (2012, que envolve atividades poéticas, musicais, cênicas e de artes plásticas), a trilogia Ave, Água (2017), Ave, Flor (2009) e Ave, Pássaro (2007), Comadre Corujinha e Compadre Gavião (2007) e Passa, passa, passarinho (2006).


Participou de antologias na Itália e no Brasil, como em 103 que contam (2006), Brevíssimos (2005) e 101 que contam (2004) – todas organizadas por Charles Kiefer – e da Coletânea de Poesia Gaúcha (2013), organizada por Dilan Camargo (poemas transcritos abaixo).


O livro Piquenique no jardim rendeu-lhe o Prêmio Filoteo Amodeo, em Castiglioni di Sicilia em 2015. Também foi premiada pelo livro Ave, flor em 2014 e 2013 (Segnalazione di Merito/Libro edito in Portoghese e Prêmio Pensieri in Versi, ambos pela Accademia Internazionale Il Convivio, da Catania, na Itália).
* * *

POEMA

envolto em casulos de silêncio
nasce o poema do espanto

é rota a rede em que repousa
o sonho

é rouco o grito que à dor
responde

toscas mãos tramam
o andar do meu passo
bocas ocas saciam
a sede que esgarço

a cada instante um espanto
a cada espanto um poema

* * *

MAS O QUE É ISSO, POESIA?

“De poesia –
mas o que é isso, poesia.
Muita resposta vaga
já foi dada a essa pergunta.
Pois eu não sei e não sei se me agarro a isso
como a uma tábua de salvação.”
Wislawa Szymborska

Não pergunte por que,
(pois calo)

a mim mesma falo:
por que razão resvalo
sempre no mesmo ralo

por onde escoa
o resto do tempo
o silêncio do abraço
o cheiro do rastro
o espasmo da dor
a borra do vinho

não pergunte por que,
(pois calo)

É poesia a dor que sinto?
E se não sinto?
E se nem me abalo?

Mas o que é isso, poesia?

Se sei, me calo
(não falo)

não pergunte
não pergunte por que
não pergunte por que,
(pois calo)

Mas o que é isso, poesia?

* * *

À ESPERA DO NOME

À espera do nome:
noivo, casa, tempo,
pássaro, videira, fome.

(De que serve o nome?)

O noivo nasce sem nome:
casa, rede, peixe, tempo,
tudo se consome.

À espera do nome,
a uva nomeia a sede,
o pássaro, a fome.

(De que serve o nome?)

Do noivo, da casta,
da casa, do templo,
da ave, do ventre?

Se tudo é rede,
se tudo é peixe,
se tudo se consome.

(De que serve o nome?)

de todos os pronomes,
de todas as fomes,
de todas as sedes.

(Se tudo se consome.)

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog