O poeta FLÁVIO LUIS FERRARINI nasceu em 5 de agosto de 1961, no distrito de Travessão Paredes, em Flores da Cunha (RS). Além de poeta, Ferrarini foi cronista dos jornais O Florense (algumas foram reunidas em Crônicas da cidade pequena, de 1995), Semanário, este de Bento Gonçalves, e do jornal Pioneiro, de Caxias do Sul; redator publicitário e escreveu livros voltados ao público infantojuvenil – Bento Bandini: seja você mesmo, de 2013, é considerado um de seus livros mais autobiográficos, assim como também é O menino na Terra do Sol, última obra em vida do escritor florense, levada às telas em forma de um curta-metragem, dirigido e produzido por Michel Marchetti e Dandy Marchetti, de Bento Gonçalves.
O primeiro livro do poeta florense é Volta e meia um poema na veia, de 1985. Até 2014, com o romance poético O menino da terra do sol, publicou mais de 20 livros (incluindo os infantojuvenis) e participou de diferentes antologias estaduais (como Letras do Brasil, da Casa do Poeta Riograndense, 1984, e Coletânea de poesia gaúcha contemporânea, de 2013, organizada por Dilan Camargo). Em 2007, foi patrono da Feira do Livro de Flores da Cunha, e duas bibliotecas da região adotaram o seu nome como forma de homenageá-lo: a Municipal de Nova Pádua e a da Escola Municipal Rio Branco, de Flores da Cunha.
Na
manhã de 16 de junho de 2015, Ferrarini sofreu um acidente de trânsito na
ERS-122, na localidade de São Gotardo, e não resistiu aos ferimentos. Em 2016,
foi criado o Instituto Flávio Luís Ferrarini (www.flavioluisferrarini.com.br),
para guardar o acervo pessoal do poeta e se tornar um local para a fomentação
cultural e a integração entre as pessoas, com atividades literárias. Por
ocasião da inauguração, a AMZ publicou o livreto Tira-Gosto, uma coletânea de 21 poemas que Ferrarini já havia
deixado organizada e diagramada.
NOITES EM PEDAÇOS
Raios
rompem os canos da noite
Trovões
rugem na imensidão do céu
Nuvens
azedas se destorneiram
O
vento insano mobiliza açoites
Telhas
de barro ganham asas
Voam
pedaços de pano
Fortes
tempestades começam
De
repente dentro da gente
* * *
em mim a noite me amanhece
em
mim a noite não me escurece
em
mim a noite me amanhece
tenho
os anos que o tempo me veste
mas
não visto os anos que tenho
* * *
VIDA
BESTA
Sou uma pessoa igual a cada
um de vocês
Também gosto de feijoada e
futebol
Também gosto de praia
cerveja e anzol
Também gosto das mulatas no
carnaval
Também passeio os olhos
pelas ofertas do jornal
Como vocês volto para casa
às seis da tarde
Também carrego um embrulho
debaixo do braço
Também me molho debaixo do
chuveiro
Também tomo café com
margarina
Debaixo da mesa farta da
novela das oito
Mas como vocês acho tudo
isso uma bela bosta
Também estou do lado mais
fraco da corda
Também estou com a corda no
pescoço
Também estou na corda bamba
da vida
Como vocês estou atolado na
lama até a alma
Se vocês têm queixa também
me queixo
Também engrosso a fila dos
queixosos
Também conduzo meu arado
sobre lamúrias
Também tenho vontade de
mandar tudo para o céu
Mas como vocês me deixo leva para o inferno
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