FAGUNDES VARELA nasceu Luís Nicolau Fagundes Varela em Rio Claro (RJ), em 17 de agosto de 1841. Avesso à vida em sociedade, ingressou na faculdade de Direito em São Paulo, depois de três anos de boêmia, mas preferiu a literatura. Casou-se com uma artista de circo, Alice Guilhermina Luande, conhecida como Ritinha Sorocabana, e teve um filho, que morreu tragicamente aos três meses e o inspirou a compor “Cântico do Calvário”.
Publicou o primeiro livro, Noturnas, em 1861. Entre suas obras destacam-se Vozes da América (1864), Cantos e Fantasias (1865), Cantos Meridionais (1869) e Diário de Lázaro (1880) – em grande parte de seus últimos trabalhos se nota a preocupação com problemas sociais, a defesa da pátria e a crítica à escravidão.
De São Paulo, mudou-se para Recife (PE) a fim de prosseguir os estudos, mas, após perder a esposa, volta para o Rio de Janeiro, onde entrega-se de vez à vida errante – entre o álcool, a religião e a natureza –, sem que o segundo casamento, com uma prima, o acalmasse. Faleceu aos 33 anos, em Niterói, vítima de um AVC, no dia 17 de fevereiro de 1875.
É patrono da cadeira nº 11 da Academia Brasileira de Letras (ABL)

* * *


CÂNTICO DO CALVÁRIO

À memória de meu filho morto a 11 de dezembro de 1863

Eras na vida a pomba predileta
Que sobre o mar de angústia conduzia
O ramo de esperança. Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro
Eras a messe de um dourado estio
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, a inspiração, a pátria,
O porvir de teu pai! – Ah! no entanto,
Pomba, – varou-te a flecha do destino!
Astro, – engoliu-te o temporal do norte!
Teto, – caíste! – Crença, já não vives!
[...]
Mas não! tu dormes no infinito seio
Do Criador dos seres! Tu me falas
Na voz dos ventos, no chorar das aves,
Talvez das ondas o respiro flébil!
Tu me contemplas lá do céu, quem sabe?
No vulto solitário de uma estrela.
E são teus raios que meu estro aquecem!
Pois bem! Mostra-me as voltas do caminho!

Brilha e fulgura no azulado manto,
Mas não te arrojes, lágrima da noite,
Nas ondas nebulosas do ocidente!
Brilha e fulgura! Quando a morte fria
Sobre mim sacudir o pó das asas,
Escada de Jacó serão teus raios
Por onde asinha subirá mih’alma.

* * *

CHILDE-HAROLD

(Sobre uma página de Byron)

Não te rias assim, oh! não te rias,
basta de sonhos, de ilusões fatais!
Minh’alma é nua, e do porvir às luzes
meus roxos lábios sorrirão jamais.

Que pesar me consome? ah! ao procures
erguer a lousa de um pesar pfoundo,
nem apalpares a matéria lívida,
e a lama impura que pernoita ao fundo!

Não são as flores da ambição pisadas,
não é a estrela de um porvir perdida...
Que esta cabeça coroou de sombras
e a tumba inclina ao despontar da vida!

É este enojo perenal, contínuo,
que em toda a parte me acompanha os passos,
e ao dia incende-me as artérias quentes,
me aperta à noite nos mirrados braços!

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