OLIVEIRA SILVEIRA nasceu em
16 de agosto de 1941, no distrito de Touro Passo, na Serra do Caverá, em
Rosário do Sul (RS). O primeiro livro foi publicado em 1962, Germinou. Ao todo, foram 11 títulos,
sendo Bandone do Caverá o último
(2008) – em 2012, o poeta Ronald Augusto organizou o livro Oliveira Silveira – Obra Reunida, publicado pelo IEL. Além disso,
tem participação em antologias no Brasil (como AXÉ – Antologia Contemporânea da Poesia
Negra Brasileira, 1982), na
Alemanha e nos Estados Unidos. Seus poemas foram adaptados, encenados e
musicados – estes, por Haroldo Mais, Luiz Wagner, Flávio Oliveira, Marco de
Farias e, na Suécia, pela compositora Tebogo Monnakgotla.
Fundador do grupo Tição, onde
foi criada a revista com o mesmo nome, que circulou por três edições, uma em
1978, outra em 1979, em formato revista, e outra, em formato de jornal, em
1980. Escritor de literatura, definia-se como pesquisador da cultura
afro-brasileira.
Foi professor de Língua
Portuguesa e Literatura na capital gaúcha, jornalista e um dos idealizadores do
Dia Nacional da Consciência Negra (data criada por meio da Lei nº 10.639, de 2003),
a partir de um movimento iniciado ainda os anos 70, com o Grupo Palmares – do
qual também participou da criação, em 1971 – e reuniões no Clube Social Negro
Marcílio Dias.
Poeta premiado, recebeu,
entre outros, a menção honrosa da União Brasileira de Escritores (UBE, RJ), a medalha
Mérito Cruz e Sousa, no centenário do poeta (1988, SC), a Comenda Resistência
Civil Escrava Anastácia (1999, RS), e foi homenageado com o Tesouro Vivo
Afro-brasileiro no Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros (2002, SP).
Em 2011, a Fundação Palmares
reinaugurou a biblioteca de sua sede, em Brasília, com o nome do poeta. Em 2019
foi criado o curso Oliveira Silveira: o
poeta da consciência negra brasileira (UFRGS e Unipampa). Uma sala da Casa
de Cultura Mario Quintana passou a ser identificada com o seu nome e parte de
seu acervo foi doado ao Instituto Estadual do Livro (IEL). Foi gravado um
audiobook pelo grupo das rodas de poesia e música Sopapo Poético, intitulado Poemas sobre Palmares. Mais informações
podem ser obtidas o site www.oliveirasilveira.com.br/.
Oliveira Silveira faleceu no dia 1º de
janeiro de 2009, aos 68 anos, em razão de um câncer.
* * *
POEMA SOBRE PALMARES
Nos pés tenho ainda correntes,
nas mãos ainda levo algemas
e no pescoço gargalheira,
na alma um pouco de banzo
mas antes que ele me tome,
quebro tudo, me sumo na noite
da cor de minha pele,
me embrenho no mato
dos pelos do corpo,
nado no rio longo
do sangue,
voo nas asas negras
da alma,
regrido na floresta
dos séculos,
encontro meus irmãos,
é Palmar,
estou salvo!
Uma lança caneta-tinteiro
escreveu liberdade no céu,
riachos e palmeiras,
matos e montanhas,
e se espalhou no ar uma aura boa,
sono de leves pálpebras,
sonho de grandes asas, fofas plumas.
Palmar!
e um brado irrompeu, honra e brio,
nosso brado maior, nobre e digno,
irrompeu
do mais fundo subterrâneo,
violência de lavas escuras
transbordando libertas!
Zumbi – nome gravado
A lança
nos contrafortes da serra,
a sangue
nos contrafortes da história
a fibra
na alma forte dos negros!
Palmar!
palmeiras de sentinela
guarnecendo a memória dos teus
bravos!
Palmar!
arranquem todas as palmeiras
e mais se encravará
a raiz da memória,
quebrem os contrafortes
e não se abalará
tua glória,
queimem a história toda
e verão que és eterno!
[...]
* * *
MÃO-DE-PILÃO
Água no oco,
palha, grão.
Soca, soca,
Mão-de-pilão.
Longe que é, longe que fica
e a mão-de-pilão esmurrando a cangica.
Longe que é, longe que fica
e a mão-de-pilão tocando cuíca.
Água no oco,
palha, grão.
Soca, soca,
mão-de-pilão.
Socando, socando aos sol da manhã,
o eco na serra parece tantã.
Bate, bate... pra quê bate tanto?
Longe tão longe que não adianta.
Água no oco,
palha, grão.
Soca, soca,
mão-de-pilão.
* * *
NEGRINHO
Um naco de fumo escuro
negrinho
da tua cor, no monturo.
Um toco de pito aceso
negrinho
cor de teu sangue indefeso.
Muito estancieiro safado
negrinho
formigueiro à beira-estrada.
Contra as manhas dessa malta
negrinho
se vai de cabeça alta.
E peço: clareia o rumo
negrinho
de teus irmãos cor de fumo.
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