Considerado o primeiro poeta autêntico do Romantismo brasileiro, GONÇALVES DIAS nasceu no dia 10 de agosto de 1823, em Caxias (MA). Ao retornar para o Brasil em 1845, depois de estudar Leis, em Coimbra (Portugal), aproximou-se do poeta Gonçalves de Magalhães e foi nomeado professor de Latim e História do Brasil no Colégio Pedro II.
Foi nesse período que escreveu seu poema mais conhecido, “Canção do Exílio”, em 1843, no qual expressa sua solidão e o que sente com a distância. Publicou os Primeiros Cantos em 1846, os Segundos Cantos e Sextilhas de Frei Antão (1848) e Últimos Cantos (1851), no qual encontramos o não menos conhecido "I-Juca-Pirama".
Sua poesia gira em torno dos grandes temas – Natureza, Pátria e Religião – e fez dele um dos grandes poetas indianistas brasileiros da Primeira Geração Romântica. Na vida pessoal, foi impedido, pela família dela, de casar com Ana Amélia Ferreira do Vale, em função do preconceito de cor – ele era mestiço – para quem escreveu, ambos casados, o poema “Ainda uma vez – adeus!”.
Escreveu, também, Brasil e Oceânia (1852), um Dicionário da Língua Tupi (1958) e um poema épico, Os Timbiras, que ficou inacabado. Além de poeta e professor, foi teatrólogo e jornalista – um dos fundadores da Revista Literária Guanabara, escreveu para o Jornal do Comércio, a Gazeta Mercantil e o Correio da Tarde. Estudou, ainda, etnografia e linguística durante viagem pela Amazônia, e trabalhou na Secretaria de Negócios Estrangeiros.
No dia 3 de novembro de 1864, Antônio Gonçalves Dias faleceu no naufrágio do navio Ville de Boulogne, no litoral do Maranhão, próximo ao Farol de Itacolomi, quando viajava à Europa para tratar-se da saúde.

* * *


CANÇÃO DO EXÍLIO

Kennst Du da Land,wo die Citronen blühn
Im dunkeln Laub die Gol-Orangen Glühn
Kennst du es wohl? – Dahin, dahin!
Möcht ich... ziehn (Goethe)

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

* * *

OLHOS VERDES

Eles verdes são:
E têm por usança,
Na cor esperança,
E nas obras não.
(Camões, Rimas)

São uns olhos verdes, verdes,                         Como se lê um espelho,
Uns olhos de verde-mar,                                  Pude ler nos olhos seus!
Quando o tempo vai bonança;                         Os olhos mostram a alma,
Uns olhos cor de esperança,                            Que as ondas postas em calma
Uns olhos por que morri;                                   Também refletem os céus;
Que ai de mi!                                                     Mas ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo                             Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!                                               Depois que os vi!
[...]                                                                
Como duas esmeraldas,                                   Dizei vós, ó meus amigos,
Iguais na forma e na cor,                                  Se vos perguntam por mi,
Têm luz mais branda e mais forte,                   Que eu vivo só da lembrança
Diz uma – vida, outra – morte;                          De uns olhos cor de esperança
Uma – loucura, outra – amor.                           De uns olhos verdes que vi!
Mas ai de mi!                                                    Que ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo                            Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!                                              Depois que os vi!
                                                                     
São verdes da cor do prado,                            Dizei vós: Triste do bardo!
Exprimem qualquer paixão,                              Deixou-se de amor finar!
Tão facilmente se inflamam,                             Viu uns olhos verdes, verdes,
Tão meigamente derramam                              Uns olhos da cor do mar:
Fogo e luz no coração;                                     Eram verdes sem esp’rança,
Mas ai de mi!                                                     Davam amor sem amar!
Nem já sei qual fiquei sendo                             Dizei-o vós, meus amigos,
Depois que os vi!                                               Que ai de mi!
[...]                                                                     Não pertenço mais à vida
                                                                          Depois que os vi.

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