FABIO WEINTRAUB nasceu em 24 de agosto de 1967, em São Paulo (SP). Poeta e crítico literário, é formado em psicologia e doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP).Publicou Toda mudez será castigada (1992) e Sistema de Erros, ilustrado por Fernando Vilela (1996) – prêmio Nascente, da USP/Editora Abril; o livro Novo Endereço (2002) mereceu o prêmio Cidade de Juiz de Fora, prêmio especial Embajada de Brasil, categoria Literatura Brasileña, no Prêmio Casa de las América (2003), e, em 2004, foi publicado em edição bilíngue.
Em 2006, Fabio ganhou Bolsa de Incentivo à Criação Literária do Governo do Estado de São Paulo, que resultou no livro Baque, publicado no Brasil (2007) e em Portugal (2012). Em 2015, publicou Treme Ainda, e, em 2016, Falso Trajeto, antologia comemorativa dos 20 anos de poesia, com dez poemas inéditos. O mais recente livro de Fabio é Quadro de Força, de 2019, ano em que também participou da antologia A resistência dos vagalumes, escrita por LGBTQs e organizada por Alexandre Rabelo e Cristina Judar.
Já coordenou a coleção de poesia Janela do Caos, da Nankin Editorial, e tem poemas publicados em jornais e revistas, nacionais e do exterior – como Cult, Cacto, Telhados de Vidro e Relâmpago. Organizou, entre outros, os livros Poesia Marginal (2006) e Eu, passarinho, antologia da poesia de Mário Quintana (2006). Participou por mais de uma década do grupo Cálamo, núcleo de pesquisa e criação poética ligado à Casa Mário de Andrade.

* * *


PUDIM

come pudim no meio da rua
sacola nos braços
o prato nas mãos

a calda a escorrer
contra o congestionamento
a dentadura no leite
depois da sopa

come com avidez
alheia e diabética
antes da amputação

sem mesa ou apoio
no meio da rua
come o pudim
sob a luz condensada

em banho-maria a memória
e um perfume de baunilha
que o trânsito e a fumaça
as dívidas e a velhice
já não podem corromper

* * *

MANUAL DE INSTRUÇÕES

cuidado: ágil
contém material sórdido
feche a puta ao sair
este fado para cima

a persistirem os sintomas
procure a cartomante

não ultrapasse a faixa amarela
não obstrua as esmolas
conserve a calma e agite
antes de queimar

escreva com moderação e
se estiver sodomizado
não entre no chão nem saia dele

cheques cairão sobre a sua cabeça
observe as luzes de demência
enquanto aciona as saídas sobre a asa

recolha as fezes de seu pai:
mesmo que os outros não vomitem
a rua é pública e um país se faz
com homens e tiros

* * *

SEREIA

num piscar de dentes
mamou todo o leite da sereia
único atributo que o atraíra
surdo que era

mas o seio da sereia
menos mamífera que fera
murchou feito um limão

vertido o caldo da ira
a sereia abraça o surdo
quebra-lhe as costelas
espreme
(esponja suja)
seu coração gorduroso

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