Poeta, romancista, ensaísta, tradutor,
pesquisador na área de semiótica e professor de Comunicação, DÉCIO PIGNATARI nasceu em 20 de agosto de 1927, em Jundiaí (SP). Com
Haroldo de Campos e Augusto de Campos, fundou o Grupo Noigandres e a revista de
mesmo nome em 1952, que deram a base para o movimento concretista.
No retorno da Europa,
depois de anos viajando pela Europa, em 1956 eles lançam oficialmente o
movimento durante a Exposição Nacional de Arte Concreta, no Museu de Arte
Moderna de São Paulo (MAM-SP), que no ano seguinte ocupará o saguão do
Ministério da Educação e Cultura (MEC), no Rio de Janeiro.
O primeiro livro de Pignatari, O Carrossel, é de 1950, ainda com o uso
dos metros tradicionais e publicado pelo Clube de Poesia de São Paulo. Em
seguida, ministrou, em Teresópolis (RJ), o curso “Raízes da Poesia Moderna”,
com ênfase nas contribuições das literaturas européia e estadunidense e na
análise crítica da situação da poesia brasileira. Depois, a tese intitulada
“Situação Atual da Poesia no Brasil”, é apresentada no II Congresso Brasileiro
de Crítica e História Literária, em julho de 1961, e publicada na revista Invenção (1962). Esta e o Plano-Piloto para Poesia Concreta,
assinada pelos três e publicada no número 4 da antologia Noigandres (1958), configuram-se
como “a melhor introdução à inteligência da nova poética” (BOSI, 2000). Publicou, com Haroldo e Augusto, o livro Teoria da Poesia Concreta (1965, com terceira
edição em 1987, pela Brasiliense), onde estão reunidos textos críticos e
manifestos literários publicados/redigidos entre 1950 e 1960.
Na poesia, viriam os livros Organismo (1960), Exercício Fino (1968), Poesia
pois é poesia (1977), Vocogramas
(1985) e Poesia pois é poesia e poetc.
(1986; 2004). Pignatari também publicou textos em prosa – além de Errâncias (2000), há O rosto da memória (contos, 1986), Panteros (romance, 1992) e o
livreto-roteiro para a ópera multimeios TemperaMental,
de Livio Tragtemberg e Wilson Sukorsky (1993) –, peça de teatro (Céu de Lona, 2004), ensaios (além da Teoria da Poesia Concreta, Signagem da Televisão,
1984, e Cultura
pós-nacionalista, 1998;
entre outros), e traduções – e transcriações.
Entre elas Cantares de Ezra Pound (com A. de Campos e H. de Campos, 1960), Antologia
poética de Ezra Pound (com A. de Campos e H. de Campos, J. L.
Grünewald e Mário Faustino, 1968, revista e ampliada em 1993), Mallarmé (com Augusto e Haroldo de Campos,
1978), Retrato do amor quando jovem (baseada em Romeu e Julieta, de
William Shakespeare, 1990) e 31 poetas, 214 poemas: do Rig-veda e Safo a
Apollinaire (1996).
Pignatari freqüentou ateliês de pintura, de
Alfredo Volpi e Hermelindo Fiaminghi, fundou a Associação Brasileira de Desenho
Industrial (1964), participou da fundação da Association Internationale de
Sémiotique (AIS, na França, 1969) e da Associação Brasileira de Semiótica (ABS,
1975) e lecionou Teoria da Informação na Escola Superior de Desenho Industrial
do Rio de Janeiro (1964-1975) também lecionou na Capital Federal, onde
organizou a Escola de Publicidade da Faculdade de Comunicação da Universidade
de Brasília (UnB). Por muito tempo trabalhou em agências de publicidade,
nacionais e multinacionais (como a Thompson e a Metro 3, depois DPZ), além de
escrever para jornais, inclusive sobre futebol. Escreveu para o cinema (Anos 30: entre duas guerras, entre duas
artes) e também atuou (Sábado, de
Ugo Giorgetti).
Em 1999, o poeta mudou-se para Curitiba, onde
faleceu em 2 de dezembro de 2012. Em 2017, foi realizada a mostra Décio Pignatari – Na arte interessa o que
não, com peças de sonoras, vídeos, colagens e serigrafias.
* * *
NOÇÃO
DE PÁTRIA
Que faz
minha memória de outras gentes
aos poucos
na distância e aos sustos intocável?
Que faz
com que marchemos inodoros,
eu e
vós – gentes – e nós ventos salubres
que
asseveramos a lei da contumácia
na
falência do sopro, e o júbilo
do
sopro na denúncia da morte,
nós
– os meninos do beijo à verde voz?
–
Apenas o amor e, em sua ausência, o amor,
decreta,
superposto em ostras de coragem,
o
exílio do exílio à margem da margem.
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