O escritor VITOR BIASOLI nasceu no dia 20 de agosto de 1955, em Pelotas (RS). É formado em História pela Universidade Federal do Rio do Sul (UFRGS) e doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP).
Entre outros, publicou poemas em Calibre 22 (1999), contos em O fundo escuro da hora (2019) e crônicas em Santa Maria ontem & hoje (2010); também participou das coletâneas de contos Milongueiro (2011) e Descontos (2017), esta, com a Turma do Café (grupo que já publicou 17 livros desde 2005). Mantém o blog “A louca que passa” (vbiasoli.blogsplot.com) desde 2011.

* * *


CALIBRE 22

A bala que varou teu corpo
voa no meu sonho, alucinada,
e dança — feito feiticeira —
na pupila dos meus olhos.

Dança, sangra e sapateia,
atordoa mas não mata.
É lembrança cravada na memória,
urrando para não morrer.

* * *

UVEITE ANTERIOR

No branco dos meus olhos
explode em filetes de sangue
a armadilha do meu corpo

antiga trama que não desato
nó de um grito submerso

Vem de muitos anos soterrada
arder no círculo da minha íris
impedir a luz e criar a névoa

para que eu não consiga ver o dia
em que primeiro feriu o amor

* * *

SONHOS DE GRÉCIA E DE ROMA

Estar diante da noite
e interrogar o desenho das sombras.
Estar diante da noite
e recuperar o passado.
Se o território da infância é o que importa,
procuremos o menino,
o menino que um dia nós fomos.
Ele é frágil, tem olhos arregalados.

Um dia quis aplacar as feras
– o pai, a mãe; o bem e o mal –
e não teve grande sucesso.
O menino era frágil e teve fantasias heroicas.
Imaginou-se Aquiles, Leônidas,
o último dos irmãos Coriáceo
e se deu mal.
Estar diante da noite
e encontrar o menino.
Como sofreu o guri!
Estar diante da noite,
diante dos olhos do menino,
e por fim compreender:
se a infância é o território que importa,
não escorraçar o menino.
Aceitar seus sonhos de Grécia e de Roma
e forjar nova lança, novo escudo.
– Menino, o mundo sempre foi
muito maior do que nós.
vamos aprender nossa medida.
Mas nem por isso esqueçamos
Aquiles, Leônidas
e os irmãos Coriáceo.
Estar diante da noite
e encontrar o menino.
Se a infância é o território que importa,
reinventar os sonhos de Grécia e de Roma.


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