O poeta DONIZETE
GALVÃO nasceu em Borda da Mata (MG) no dia 24 de agosto de 1955. Publicou Azul Navalha em 1988, que lhe valeu o prêmio
de autor revelação da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA).
Seus poemas estão em revistas literárias do Brasil (Nicolau e Cult, entre outras), Venezuela (Babel),
Portugal (Anto), Itália (Anterem e Ricerca) e Estados Unidos (Mariel),
além de participar da Anthologie de la poésie
brésilienne, na França, e das antologias Nova Poesia Brasileira, Poesia
Mineira do Século XX e Na virada do
século – Poesia de Invenção do Brasil (2002)
Depois de Azul
Navalha foram publicados As faces do
rio (1991), Mundo Mudo (2003) e O homem inacabado (2010) – finalista do
Prêmio Portugal Telecom –, entre outros, incluindo O sapo apaixonado (em prosa, 2007) e Mania de bicho (2009), voltado para o público infantil.
Donizete cursou Administração de Empresas e Jornalismo, e
trabalhou como redator publicitário na Editora Abril. Faleceu em 30 de janeiro
de 2014, aos 54 anos, devido a um infarto, em São Paulo. Em 2018, foi publicado
O antipássaro, organizado por Tarso
de Melo e Paulo Ferraz, que o poeta havia deixado pronto.
* *
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NINA
SIMONE
Voz de taturana
que deixa um rastro de fogo
por onde passa.
Voz de soda cáustica
roendo a carne
até cavar um fosso.
Voz púrpura
das cinco chagas
da paixão.
Voz de aço
temperado com bourbon.
Voz de avatar,
de deus Vishnu,
de San Juan de la Cruz
cantando blues.
Voz de negra veia,
voz de lobisomem
uivando para a lua cheia.
* *
*
VISITA
Que ela chegue
sem clarins ou trombetas,
entre como facho de luz
pelas gretas da janela
e atravesse o quarto
na sua claridade.
Que ela chegue
inesperada,
como a chuva
na tarde calorenta
e faça subir o odor
de poeira molhada.
Que ela chegue
e se deite ao meu lado,
sem que a perceba.
Que me lave
com água de fonte
e me cubra
com o bálsamo branco
do silêncio.
* *
*
O
ASFALTO, ENFIM
Se toda morte é descida,
a morte mais dolorida
é aquela com o corpo
varado de balas
debruçado
sobre o carrinho de
construção
que desce as valas da
favela.
Morte de cabeça para baixo
como deveria ter sido a vida
inteira
do moleque teimoso
que à força da bala
quis levantá-la do chão.
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