VICENTE
FRANZ CECIM nasceu no dia 7 de agosto de 1946, em Belém
(PA). Deu início, em 1979, à obra Viagem a
Andara oOlivro invisível, a série que ele denomina “literatura fantasma”: os
primeiros livros são A asa e a serpente
e Os animais da terra (1980, Prêmio
Revelação de Autor da APCA). A noite do Curau
(1981) é a primeira versão de Os jardins
e a noite (1981, Menção Especial no Prêmio Internacional Plural, no
México); em 1988, reúne os sete livros em Viagem
a Andara e recebe o Grande Prêmio da Crítica da APCA, e, em 1995, Silencioso como o paraíso, que soma mais
quatro livros de Andara.
Em 2001, o livro Ó
Serdespanto (reunindo dois novos livros) fora destaque em Portugal,
apontado como um dos melhores livros do ano – no Brasil, em 2006; os volumes A asa e a serpente e Terra da
sombra e do não, de 2004, trazem as versões finais e transcriadas, dos sete
primeiros livros de Andara. Em 2005, publica K O escuro da semente, ainda em Lisboa – o livro chegou ao Brasil
em 2016. O autor ainda publica as
iconescrituras oÓ: Desnutrir a pedra
e Breve é a febre da terra, Prêmio
Maranhão de romance, em 2008 e 2014, respectivamente. Em 2019, o ciclo
literário de Andara completou quatro décadas, e Cecim autografou a edição bilíngue
de Os jardins da noite/Les jardins et la nuit.
Cecim também é autor de kinemAndara, ciclo de filmes em super-8, nos anos 70. Em 2007,
filmou Marráa Yaí Makúma – Aquele que
dorme sem sono; ainda constam em sua filmografia A Lua e o Sol e K+afka, Iconocanto e Não é água (O) que se bebe, entre outros.
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HOMENS
E CINZAS
homens e cinzas enveredaram cedo
Deserto, passos de centeio negro
Ali
horizonte e noite e alimento. Uno
As estações por onde passam
A mais rítmica terra uiva longe Silêncio
entre clarões
E clamo
Os trigais sagrados
A relva das desordens
Ex-voz interminavelmente sempre retorna um êxtase
* *
*
OS
GRANDES MESTRES
Há uma qualidade que os
homens ignoram: viver é
menos
Queda que a pedra da memória
e mais do que s serpentes
reconhecem: O odor humano
Está
entre as estrelas morrendo
nos seus sonhos
e a terra fria afagada
contra o peito
antes de lançar um sol sobre
as suas vítimas
Se isso se parece um pouco
com as residências do mal
e com casas perdidas em si
mesmas,
foram os Cálices da espécie
que deram à vida a nutrição e
os tumultos
Eu falo da invenção da sede
Porque o homem é o animal de
areia que dá sentido às
fontes do real
e quando a noite cai,
bebemos a água escura do
ventre das mulheres
Mas vejam: o escorpião
instalou as suas ferragens
O céu tem suas lágrimas em
silêncio
O caracol da voz,
quando sussurra os enigmas
da chuva,
sabe:
Quase nunca é tempo
Quase nunca é tempo
para o perfume do sangue
Quase nunca é tempo
de permanecer humano
Esses rios têm espelhos
partidos, e tudo o que foi
submerso
é um caos perdido
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