Nascido em Dores de Indaiá (MG), no dia 14 de agosto de 1902, o poeta EMÍLIO MOURA formou-se bacharel na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (MG). Publicou o primeiro livro de poemas, Ingenuidade, em 1931. Entre os que se seguiram, temos Cancioneiro, 1944-1945 (1945) e Itinerário Poético (1969 e 2002), pelo qual recebeu o Prêmio de Poesia do Instituto Nacional do Livro. Também recebeu prêmios da Academia Mineira de Letras (1949) e do Pen Club do Brasil (1969).


Desde 1924 integrou o grupo que editava A Revista, primeiro veículo modernista mineiro, ao lado do poeta Carlos Drummond de Andrade, do memorialista Pedro Nava e do romancista/cronista João Alphonsus. Colaborou com os jornais Diário de Minas, Estado de Minas, A Tribuna e Minas Gerais.
Foi professor entre 1930 e 1940 a Faculdade de Filosofia da UFMG, tendo exercido outras funções na instituição. Também foi funcionário público (diretor do Departamento de Ensino da Secretaria da Educação do Estado, entre outros) e diretor da Imprensa Oficial do Estado.


Emílio Guimarães Moura faleceu no dia 28 de setembro de 1971, em Belo Horizonte. Em 2002, o Governo de Minas Gerais organizou a exposição comemorativa Poesia, teu nome particular é Emílio.

(a foto, do acervo da UFMG, tem Emílio Moura, à esquerda, ao lado do escultor José Pedrosa e do escritor Murilo Rubião)

* * *


CANÇÃO

Viver não dói. O que dói
é a vida que não se vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.

Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.

Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e de sede
com que tudo devoramos.

Viver não dói. O que dói,
ferindo fundo, ferindo,
é a distância infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivido.

Que tudo o mais é perdido.

* * *

COMO SE A NOITE DESCESSE...

Como a noite descesse e eu me sentisse só,
só e desesperado diante dos horizontes que se fechavam
gritei alto, bem alto: ó doce e incorruptível Aurora! e vi logo
só as estrelas é que me entenderiam.

Era preciso esperar que o próprio passado desaparecesse,
ou então volta à infância.
Onde, entretanto, quem me dissesse
ao coração trêmulo:
– É por aqui!

Onde, entretanto, quem me dissesse
ao espírito cego:
– Renasceste: liberta-te!

Se eu estava só, só e desesperado,
por que gritar tão alto?
Por que ao dizer baixinho, como quem reza:
– Ó doce e incorruptível Aurora...

se só as estrelas é que me entenderiam?

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