Domingos José Gonçalves de Magalhães, o primeiro e único Visconde do Araguaia, mais conhecido como GONÇALVES DE MAGALHÃES, nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 13 de agosto de 1811. Médico, diplomata (Europa e América do Sul), dramaturgo e poeta, estabeleceu um “programa literário” no Brasil com a publicação do livro Suspiros poéticos e saudades, em 1836.
O poeta vivia em Paris, onde também fundou a publicação Nitheroy, revista brasiliense, com Manuel de Araújo Porto Alegre, Francisco de Sales Torres Homem e João Manuel Pereira da Silva, contribuiu para que a poesia brasileira entrasse em sintonia com a produção europeia – embora seu reconhecimento esteja mais no anúncio das mudanças do que na execução das teorias.
Ao concluir o curso de medicina, em 1832, ainda no Brasil, publicou Poesias, com características arcádicas. Ao retornar ao Brasil, já com o espírito de uma “reforma” da literatura brasileira, dedica-se ao teatro – as tragédias Antônio José ou O poeta e a Inquisição (1838) e Olgiato (1839), com as mesmas intenções.
Foi membro do Instituto Histórico e Geográfico, professor de Filosofia, secretário do município de Caxias, no Maranhão, governador e deputado no Rio Grande do Sul (depois da Guerra dos Farrapos). Publicou dois livros com estudos psicológicos, Fatos do espírito humano (1865) e A alma e o cérebro (1876).
Com o apoio do imperador D. Pedro II publica o poema épico A Confederação dos Tamoios, em 1856 (nos moldes de O Uraguai, de Basílio da Gama), embora tenha sido criada polêmica em torno da autoria, a partir de José de Alencar, que critica, inicialmente de forma anônima, a qualidade da composição – tanto poética quanto histórica.
Patrono da cadeira nº 9 da Academia Brasileira de Letras (ABL), as obras completas de Gonçalves de Magalhães foram editadas pela primeira vez em 1939, incluindo além dos citados, Os mistérios (1857), Urânia (1862), Cânticos Fúnebres (1864) e Comentários e pensamentos (1880). O poeta faleceu em Roma, no dia 10 de julho de 1882.

* * *


 A TRISTEZA

Triste sou como o salgueiro
Solitário junto ao lago,
Que depois da tempestade
Mostra dos raios o estrago.
De dia e noite sozinho
Causa horror ao caminhante,
Que nem mesmo à sombra sua
Quer pousar um só instante.
Fatal lei da natureza
Secou minha alma e meu rosto;
Profundo abismo é meu peito
De amargura e de desgosto.
À ventura tão sonhada,
Com que outrora me iludia,
Adeus disse, o derradeiro,
Té seu nome me angustia.
Do mundo já nada espero,
Nem por que ainda vivo!
Só esperança da morte
Me causa algum lenitivo.

* * *

A CONFEDERAÇÃO DOS TAMOIOS

Como da pira extinta a labareda,
Ainda o rescaldo crepitante fica,
Assim do ardente moço a mente acesa
Na desusada luta que a excitara,
Ainda, alerta e escaldada se revolve!
De um lado e de outro balanceia o corpo,
Como após da tormenta o mar banzeiro;
Alma e corpo repouso achar não podem.
Debalde os olhos cerra; a igreja, as casas,
A vila, tudo ante ele se apresenta.
Das preces a harmonia inda murmura
Como um eco longínquo em seus ouvidos.
Os discursos do tio mutilados,
Malgrado seu, assaltam-lhe a memória.
No espontâneo pensar lançada a mente,

[...]

Niterói! Niterói! como és formosa!
Eu me glorio de dever-te o braço!
Montanhas, várzeas, lagos, mares, ilhas,
Prolífica Natura, céu ridente,
Léguas e léguas de prodígios tantos.
Num todo tão harmônico e sublime,
Onde olhos o verão longe deste Éden?

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