Poeta, médico e tradutor, JOSÉ EDUARDO DEGRAZIA nasceu no dia 5 de agosto de 1951, em Porto Alegre (RS). Publicou, entre outros, os livros de poemas Lavra permanente (1975), Cidade submersa (1979), A porta do sol (1982) – reunidos em Três livros de poesia, de 2002 –, A urna guarani (2004), Corpo do Brasil (2011) e Lições de geometria fantástica (2016).
Escreveu os contos de O atleta recordista (1996), A orelha do bugre (1998), A terra sem males (2000), Os leões selvagens de Tanganica (2002) e outros; as novelas O reino de macambira e A fabulosa viagem do mel de lechiguana, são, respectivamente, de 2005 e 2008.
Tem seus poemas publicados em diversas antologias, entre elas a Coletânea de poesia gaúcha contemporânea, organizada por Dilan Camargo. Publicou dezenas de artigos e crônicas em jornais e revistas do Brasil e do exterior. Traduziu livros de Pablo Neruda – entre eles, Cantos cerimoniais (1978) e Memorial de Isla Negra (2007) – e de outros poetas latino-americanos e italianos (no livro Poeti italiani contemporane, de 1995), e também tem seus poemas traduzidos para o inglês, o espanhol, o francês, o alemão e o italiano no livro Love is Geometry (2015).
Recebeu prêmios diversos – em poesia, conto, teatro e tradução. Entre eles, com a peça A casa dos impossíveis (SBT, 1975), com o livro Lavra permanente (Prêmio da Colonização e Imigração, 1975), Livro do Ano/AGES (novela, 1975), da Academia Mahi Eminescu (Romênia, 2012) e o Prêmio Internacional de Poesia de Trieste (Itália, 2013).
Degrazia ocupa a cadeira nº 1 da Academia Rio-Grandense de Letras, que tem como patrono o escritor e pintor Manuel de Araújo Porto-Alegre (1806-1879), que, por sua vez, é patrono de uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, a de nº 32, e foi um dos criadores das revistas Nitheroy (1836), Lanterna Mágica (1844) e Guanabara (1849).

* * *


O MOVIMENTO DA MONTANHA

Para conhecer uma montanha
é precisa saber da pedra
feita magma,
do antigo vulcão
formada.

A montanha é a pedra
em movimento,
fluidez em forma
solidificada. 

A montanha parece caminhar
quando o sol a esconde no sol posto,
e nós a olhamos como se fosse um pássaro,
um passo, uma pantera,
pois dentro dela bate
o coração da lava.

* * *

PEÃ PARA DYONÉLIO MACHADO

Ou não existe deus, ou tudo são deuses!
Diante do templo de Apolo, filho de Zeus e Leto,
deus solar, deus do arco e da lira,
deus da saúde, Peã,
diante das colunas erguidas no céu azul de Cós,
elevo o coração à lembrança dos que fazem parte
do meu caminho.

Uma canção para o meu melhor amigo,
que em tardes já antigas me ensinou o que sei da
língua de Homero e Hesíodo:
espantado diante do meu desconhecer do grego antigo,
passou a me ensinar a língua dos aqueus entre seus livros,
enquanto Adalgisa tocava um noturno na sala ao lado,
e a tarde de primavera lembrava o sol do Dodecaneso
que eu ainda não conhecia.

Dyonélio, um peã para ti.

Fiz uma oração para o meu pai que tanto me ensinou
sobre ser médico e ser culto, e procurar sempre ser

o melhor, servindo.
Meu pai, médico e sábio,
um peã para ti.
E um peã cantei para o meu filho Daniel, diante
das colunas do templo de Apolo:

aqui, Apolo e Esculápio passeiam entre os ciprestes,
aqui Hipócrates ensinou à sombra do plátano sagrado,

e tu, meu filho Daniel, médico,
jovem que tem a alegria da dedicação e da cura,
do conhecimento e do estudo,
estás aqui, comigo, diante do templo.

Pouco sei de mim ou dos deuses, mas o que sei
me faz cantar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog